quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Véspera de Natal.


13:30 horas.
Minha amiga, Ingrid, não se encontra em casa. Resolvo arriscar a casa dos pais. Talvez tenha a chance de encontrá-la perdida dentro de uma montanha de fios de ovos, soterrada no meio de uma farofa ou afogada numa vinha d´alhos.
Seu pai atende ao telefone no melhor estilo germânico:
- Gherad Müller!
Imagino-o fardado com o uniforme da Gestapo fazendo continência para o Fürer, enquanto tremulam as bandeiras vermelhas com a suástica, todas as vezes que sou surpreendida ao ouvi-lo do outro lado da linha.

Porém, devo admitir que essa sua forma é muito melhor do que aquela antipaticíssima:
- Quem?
Sempre tenho vontade de perguntar:
- Quem, o que cara pálida?
Quem descobriu o Brasil?
Quem foi o primeiro homem que pisou na lua?
Quem foi o FDP que inventou essa expressão imbecil para falar ao telefone?

Falo ao pai de minha amiga:
- Boa tarde, senhor Müller. Aqui é a Catherine Riccio. Como vai o senhor?
Ele responde numa imitação de Don Corleone, dizendo ter sido desnecessária a minha apresentação, pois reconheceu minha voz pelo meu sotaque napolitano.
Sotaque este totalmente inexistente, pois do idioma paterno as poucas palavras que conheço referem-se a duas primas Cucurbitáceas (cucozza e cucuzziello, abóbora e abobrinha), ao tomate, que aqui virou marca de molho (pummarola) ao respectivos membros da anatomia masculina e feminina, (melhor não mencioná-los), e um membro comum aos dois gêneros.
Algumas frases, se é que se pode chamá-las assim, extremamente lacônicas como Buon Giorno, Arriverderci e Grazie.
Duas palavras coringas : Ciao e Prego.
Em caso de precisão, sem nenhuma garantia de que vá funcionar um: “Aiuto, Carabinieri!”
E quando tudo der errado, um definitivo: “Va fa in cullo!”
Nada representativo o bastante que pudesse me dar o alegado sotaque peninsular.

Senhor Müller fazia troça comigo. Durante anos havia sido muito amigo de meu pai.
Como meninos grandes provocavam-se mutuamente o tempo todo, meu pai chamava-o de Tedesco, e ele revidava chamando-o de Italiano. Penso ter ouvido alguma coisa sobre um possivel encontro marcado entre os dois na primeira nuvem a esquerda...meus sais, nem dá para imaginar! O Além jamais será o mesmo!

Pergunto pela Ingrid. Ele não sabe dela. Deveria ter chegado duas, tres horas atrás e ainda não chegou, está atrasada como sempre, segundo ele.
- Mas sabe como é tua amiga, não sabe? Pergunta ele.
- Sim, respondi, divagando... Pais são seres esquisitos, Ingrid tem mais de quarenta anos, quase cinqüenta na verdade, filhos adultos, e seu pai ainda pensa que ela é uma criança.
- Você também sabe o quanto ela me atormenta, não é? Continuou, ele.
- Ah! É?
- Ela liga várias vezes ao dia, sempre com uma porção de desculpas. Muitas vezes não diz nada, fala que esqueceu o motivo do telefonema.
Eu ouvia, e de certa forma achava graça.
- Aliás, ela me atormenta desde o dia que nasceu, continuou ele. Veja você, eu estava pronto para ir ao futebol, era jogo Coritiba e Santos foi quando a Sara começou a reclamar de contrações, e eu ao invés de ir para o estádio precisei levá-la ao hospital.
- Uhmm! Uhmm! E depois para seu azar, ainda nasceu uma menina, provoquei.
Pois é, Sr. Müller, mas o senhor já pensou como seria sua vida sem a Ingrid?
De pronto, rindo, ele respondeu:
- Eu teria mais dinheiro.
- Mas com esse dinheiro o senhor seria mais feliz? Questionei.
Ele não respondeu.
- Vocês são dois cabeçudos! Disse rindo e desliguei.

Durante um tempo os dois ficaram brigados, sem se falarem. Dois bicudos não se beijam.
Exultei quando soube que haviam se reconciliado. E percebo pelas suas atitudes o quanto de amor não expresso existe. Senhor Müller já não tem mais dezoito anos. Como meu pai, tiveram participação ativa na indústria da fumaça durante anos. Por mais que tenha deixado o cigarro, as conseqüências do tempo em que fumou se fazem presente. Quando uma peça falha e o Sr. Müller vai para concessionária fazer revisão Ingrid morre um pouquinho, mas aposto que não fala para ele. O que me leva a crer que toda a vez que ela liga aparentemente sem motivo, “só para atormentá-lo” como diz ele, no fundo o que ela quer, é saber que ele ainda está lá, ter a certeza de que é ele quem vai atender ao telefone, com seu jeitão todo especial.
E que por mais que ele diga que teria mais dinheiro se ela não existisse, aposto que trocaria toda a riqueza material no momento que percebesse que o bem mais precioso está ao seu lado e dinheiro nenhum pode comprar.


Feliz Natal!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Pensamento Positivo

O mercado de livros de auto-ajuda movimenta bilhões ao redor do mundo.
Todos os autores, sem nenhuma exceção aconselham que diante das situações adversas deve-se relaxar, manter a calma, a auto-confiança, o bom humor.
“Os segredos das pessoas de sucesso”
“Os segredos das pessoas felizes”
“ O poder agora”
“Vencendo o medo”
“Silenciando a mente”
“Não leve a vida tão a sério”
“O segredo”
Apenas alguns títulos que visam auxiliar os desesperados, e os “nem tanto”, também.
E se for o caso de desespero financeiro, as opções são infinitas, existem até sites na Internet para ajudar a resolver a questão.
Os livros atingem seu objetivo?
É possível obter lucros com eles?
E como!
Dá um dinheirão, para os autores...

A pergunta que não quer calar é:
que esforço sobre-humano precisa fazer uma criatura para sair da cama pela manhã, quando percebe ao acordar que o dia está horrível, cinzento, faz frio, uma garoa insistente..

E além do clima externo estar desagradável, o seu clima interno, não é um dos mais simpáticos.
Deu as contas para o marido, ganhou as contas do patrão...com isso sua vida deu uma guinada de cento e oitenta graus...Não! está sendo generosa...guinada foi pouco. Sua vida girou feito um pião desgovernado.
Tinha tudo como certo e garantido. De repente um tsunami arrastou todo o seu mundo conhecido, desestruturando tudo e deixando-a à deriva no meio do mar.
Ao encontrar uma pequena ilha precisou as duras penas reaprender outros costumes, a falar a língua dos nativos, para que pudesse sobreviver nesse mundo novo.
Pensa que a qualquer momento o telefone poderia tocar trazendo mais uma novidade desagradável.
Não. Não é uma afirmação negativa, como diriam alguns autores. É tão somente uma constatação da realidade.
E para completar está com TPM.
Precisa mais?

E ela deve sair daquela cama, quente e aconchegante, abrir os braços, correndo o risco de batê-los nas paredes, e afirmar bem alto, (baixo não adianta, o Universo deve ser surdo), correndo o risco dos vizinhos ouvirem e pensarem que ela é maluca.
- EU AGRADEÇO ESTE DIA MARAVILHOSO!!!! TUDO ESTÁ BEM NA MINHA VIDA!!!!!
-Puta que pariu! Disse ela.
Nem todos os Prozacs conseguiriam mudar o tom de cinza daquele dia.

Uma famosa autora americana de tantos best-sellers, usa realmente as tais afirmações positivas em seu dia a dia, aconteça o que acontecer?
Não teria nunca seu dia de Pedro, no qual duvida das afirmações, chegando mesmo a negá-las até mais que três vezes?

Naquele exato momento, ela preferia tomar cicuta e ficar estrebuchando a ter que afirmar o que quer que fosse tamanho seu mal humor.

Enrolou-se nas cobertas, cobriu a cabeça e fingiu-se de morta.


24/01/2008

domingo, 2 de novembro de 2008

2 de Novembro Finados

Imagino que não há de existir ser humano tão inocente ao ponto de não ter ainda percebido a indústria gigantesca que existe por trás dos feriados.

Na Páscoa só se ouve falar nos preços dos chocolates, se o consumo aumentou ou diminuiu de um ano para o outro. Ressurreição de Cristo? Cerimônia de lava-pés? Domingo de Ramos? Jejum? Péra lá, vamos com calma. Não estou entendendo bem.

Quem é Cristo? Algum cantor novo? Ator? Jogador de futebol? Corre na Fórmula I? Dá uma dica, vai... Essa história de lava-pés... Já sei! Passa no programa do Gugu, é como aquele quadro do sabonete... o do sushi... passa no Faustão. Você tá de pegadinha comigo... Domingo de Ramos, eu sei! É dia de pagode lá no bairro de Ramos. Errei de novo? Sacanagem... Jejum, todo mundo sabe, é fazer regime!

Pois é... foi nisso que se tornou nossa cultura pascal.

Dia das crianças é aquela data que foi inventada, possivelmente por alguém que odiava crianças e seus pais. Pois nessa época os progenitores ficam um pouco mais (se é que é possível) malucos do que o de costume. Eles são e deixam seus pimpolhos mais mimados e ainda mais mal educados.

Já no longínquo século XVI debatia-se em dúvidas existenciais o Príncipe da Dinamarca, criado pelo bardo... Imagine se hoje ele vivesse diante de todas as opções que temos disponíveis: Oh! Dúvida cruel, dar ou não dar aquela boneca... carrinho... laptop... celular, TV de plasma que o fedelhinho tanto quer, o que, com certeza absoluta, estourará o orçamento da família nos próximos doze meses.

Dia das Mães, é aquele domingo no qual tiram-se as mães do armário, colocam-nas sob o sol para dar uma arejada e tirar o cheiro de naftalina, e lá se vai a família feliz reunida, com pacotes de presentes e vasos de flores, muitos vasos de flores, almoçar em restaurantes congestionadíssimos. Depois do almoço as mães são trancadas de volta em seus respectivos armários até o próximo Dia das Mães, no segundo domingo de maio do ano seguinte.

Dia dos Pais, não dá tanto IBOPE quanto o Dia das Mães. Não chega a causar caos em restaurantes, mas o comércio não perde a oportunidade de tentar vender gravatas, CDs, DVDs, e hoje em dia até mesmo produtos e objetos que faziam parte do universo feminino, mas que devido a uma grande e bem sucedida campanha de marketing, os homens do século XXI perceberam que não poderiam deixar de viver sem: cremes, perfumes e até mesmo, pasmem, esmalte e utensílios de cozinha... Os grandes chefes não são homens?

Chegamos enfim a ao super-mega-gigantesco feriado. Aquele que todo lojista espera contando os cifrões o ano todo: Natal.

Responda depressa: ao deparar-se com essa palavra, qual é a primeira coisa que vem a sua mente? Ora, não se acanhe... Ninguém está lendo seus pensamentos. Não é isso que fará com que você pegue o elevador supersônico a caminho do inferno quando for chegada a hora. Vamos lá... coragem! Eu ajudo. Mas é só desta vez, okey?

Dou-lhe uma... Dou-lhe duas...e...

Peru com farofas!!!

Não? Está doente, menina?

Então está pensando na sobremesa!

Naquela sobremesa gelada, o tal de pavê... Pa-vê? Te dou... PÁ... vê, que coisa boa é morar no meu estômago!!!

Natal...

Você está pensando que vai sair do regime e engordar tudo o que emagreceu durante o ano em apenas uma semana... Está pensando nas intermináveis listas de compras? Na decoração? Nas festas? Nos presentes? No trânsito, que vai ficar infernal se é que é possível piorar o que já é ruim... Nas lojas explodindo de pessoas imprevidentes, um calor insuportável, pessoas essas que exatamente como você deixam tudo para a última hora . Você, obsessiva compulsiva, mesmo que não seja diagnosticada, nessa época não tem quem não surte, está pesando em só três verbos: comprar, comprar, comprar. Não se envergonhe...

Nem por um mísero momento passou pela sua cabecinha o verdadeiro sentido do Natal. Tem alguma coisa a ver com aquele moço da Páscoa, o Cristo, lembra dele?

Percebe agora a indústria que existe por trás dos feriados?

Dia 28 de Outubro estava eu numa sala de espera e como, por mais que me esforce, ainda não descobri como desligar o meu aparelho auditivo, escutei a conversa de duas mulheres que compartilhavam o mesmo espaço.

- Fui ao cemitério ontem, pois era o último dia para limpar os túmulos, disse uma delas.

Guardei essa informação no meu HD pessoal, na pasta cultura inútil, pois nunca se sabe quando posso precisar de uma informação como essa: saber que dia 27 de outubro é o deadline para preparar os túmulos. Continuou:

- Meus filhos não podem saber disso. Sabe como é, os jovens não ligam para essas coisas...

A outra concordou com a cabeça.

- Mas fui assim mesmo, afirmou orgulhosa de seu grande feito. Minhas cunhadas estão velhinhas...

Eu a observei por trás de revista de fofocas que estava fingindo que lia. Ela aparentava muita idade, cerca de uns setenta, se dizia que as cunhadas eram velhinhas das duas uma, ou eram centenárias, ou ela já não enxergava mais e tinha perdido completamente a noção da sua própria idade...

...uma das minhas cunhadas velhinhas me ligou chorando, pois não pôde ir limpar o cemitério...

Que safada, manipuladora, pensei eu, ao invés de permanecer quieta em seu canto, foi atormentar os fantasmas das outras e conseguiu...

- Bem que você fez – disse a segunda – cumpriu com sua obrigação.

A primeira continuou a filosofar em voz alta:
- O meu marido não está enterrado lá, pois foi cremado. Meus sogros faz tanto tempo que faleceram que nem existem mais.

Cumprem-se as profecias: Tu és pó e ao pó retornarás.

-Mas sabe como é, as pessoas vão ao cemitério em finados e se virem o túmulo abandonado vão falar.

PQP! Até tu Brutus! A indústria da fofoca e maledicência chega a post mortem.

A outra lamentou:

- Eu, infelizmente(????), não tenho túmulos para limpar...

É para rir ou chorar?

...pois meus pais não estão enterrados aqui.

- Mas você não vai ao cemitério em Finados? Perguntou a limpadora de túmulos com um ar inquisidor.

- Claro, não deixo de ir!

- Mas então vai rezar no Cruzeiro da Almas.

- Isso mesmo...

Eu olhava para uma e para outra como se fosse um Aberto de Tênis..

- Eu procurei alguém no cemitério que pudesse fazer a limpeza para mim, mas estavam todos ocupados. Sabe como é, nessa data todos querem colocar seus túmulos em ordem para o dia de Finados. Eu vou voltar lá dia dois de novembro sem meus filhos saberem. Não tem mais ninguém no túmulo, mas tem os nomes nas placas. Vou pelas minhas cunhadas, colocar umas flores, afinal faz parte da nossa cultura...

Pára tudo!

Faz parte da cultura alimentada pela ânsia em obter lucros às custas da ignorância das pessoas. A pergunta que não quer calar é: por que os mortos devem ser lembrados um dia só no ano?

Quem já perdeu alguém que ama sabe o quanto isso dói. O peito aperta, o coração fica pequeno, lágrimas caem a qualquer hora, em qualquer lugar. Não tem dia marcado nem horário combinado. A falta que alguém nos faz não tem o que preencha. Um dia só no ano para lembrá-lo não é suficiente. Por que ir ao cemitério, um lugar de morte, de ossos, de vermes para lembrar de amores, de vida, de risos, de alegrias, para lembrar de quem nos fez feliz? Não é muito mais sensato e saudável fazer uma oração pelos nossos mortos num parque, num jardim florido, num lugar bonito?

Quando eu morrer vão me encontrar por ai em qualquer lugar agradável, colorido, bonito. Dia de Finados, cemitério, tristeza, estou fora!

domingo, 20 de abril de 2008

Carta para o anônimo de Karlsruhe

Querido Anônimo de Karlsruhe.
Lamento informar, mas você não é tão anônimo assim.
Pode ser desconhecido para muitos, pode até ser anônimo para outros tantos.
Mas não para mim.

Karlsruhe te entregou.
Ou você mesmo se entregou?
Quis deixar uma pista, como João e Maria, que deixaram os farelos de pão pelo caminho, para que eu te seguisse através da floresta.

Você foi embora para a Alemanha com dezessete anos em busca do teu sonho.
Eu tinha recém voltado de lá. Sabia bem o que era viver naquele país de paisagens maravilhosas, onde tudo funciona precisamente, e as pessoas são... são...são...tão...”alemãs!”
Imaginava as dificuldades que você iria passar só, longe da tua terra onde canta o sabiá, dos teus amigos, da tua família.

Partituras embaixo do braço, você partiu. Concorreu com alunos do mundo tudo. Foi aprovado em várias escolas. Escolheu a de Karlsruhe.
Já se passaram dez anos. Você já não é mais o adolescente que partiu com uma mochila nas costas e um sonho na cabeça. Conquistou o mundo pelos teus próprios méritos. É um jovem pianista bem sucedido pelo teu esforço pessoal.

Mas a imagem que guardo no álbum de lembranças do meu coração é você e teu irmão em frente à árvore de Natal decorada em minha casa. Os dois tão diferentes fisicamente. Eu me encantava com os cabelos escuros e crespos dele, e os teus lisos e claros. Mas os dois tinham a mesma meiguice e o mesmo brilho curioso no olhar. O mesmo encantamento ao descobrir um enfeite que não tinham visto antes.
Jamais tocaram um ornamento. Rodeavam a árvore, apontavam, mostravam um para o outro.
Compartilhavam a magia da árvore de Natal.

Querido Anônimo de Karlsruhe.
Você não é mais o menino de calças curtas que se encantava diante dos enfeites de uma árvore de Natal.
Mas sei que você não perdeu a tua essência. E nunca irá perder.
Em Karlsruhe, em Curitiba, onde quer que você vá o teu sorriso sempre irá cativar quem estiver ao teu lado.

Quero que saiba o quanto você é especial.

Eu amo um Anônimo de Karlsruhe!

14/04/2008

sábado, 12 de abril de 2008

Era uma vez uma Galinha Ruiva...

A mulher grávida tricota um casaquinho para o bebê que está esperando. A TV em preto e branco dá uma noticia extraordinária. Ou seria o rádio?
O ano era 1964, o dia 31 de Março.
A filha adolescente passa pela sala e faz uma pergunta qualquer.
“Psiuu! Agora não, estou ouvindo as noticias.”

A mulher grávida caminha de volta para casa com a filha.
“Vieram me contar que você não gosta do bebê que vai nascer”, fala sem mais nem menos.
Ela fica chocada! Surpreende-se duplamente ao ouvir tal afirmação desvairada, primeiro pela ausência de sujeito, e depois pela sua falsidade.
Já amava aquele ser e ansiava por conhecê-lo e tê-lo em seus braços tanto quanto a mãe.
Ao chegar a casa trancou-se no quarto e chorou até adormecer.


Mês de junho. Sábado. Aniversário de uma amiga. Passou à tarde na festa. Quando voltou a mãe não estava. Tinha ido para o hospital. Finalmente o bebê estava a caminho!
Ela tinha então doze anos.


A irmã nasceu naquela noite, mas só pode conhecê-la no dia seguinte. Eram outros tempos quando regras eram obedecidas, e as visitas ao hospital eram restritas ao respectivo horário.
Foi com a avó materna.
“Finalmente alguém moreno nessa família” foi o seu comentário aprovando sua irmã com o seu selo de qualidade.
Por certo ela e o irmão tinham o selo de qualidade da avó paterna por serem mais claros.
“Sabe-se lá, os adultos são esquisitos” pensava ela, enquanto olhava o bebê através do vidro do berçário. Observou admirada/horrorizada que o seu bebê tinha o rosto sujo de sangue.


O primeiro dia que a família toda se aventurou a sair depois da chegada do novo membro, foi um domingo para almoço na casa dos avós. Aquele dia era o primeiro passeio da irmã. Naquele tempo recém nascidos permaneciam trancafiados no cofre, só tinham autorização para irem ao pediatra e voltarem para casa. Passearem só depois de dois meses.
O grande dia chegou! Foi preparado um arsenal de guerra:
fraldas (não, não era a época das fraldas descartáveis), cueiros (alguém sabe o que é isso?), calças plásticas, mamadeiras, (a mãe jamais usaria uma potinho da Nestlé), mantas, casaquinhos, sapatinhos, toucas (quem já viu um bebê de touca?), sacolas... tudo o que uma criança temporona poderia precisar e muito mais.
Afinal estavam indo passar algumas horas na casa da avó logo ali... imagine se fosse uma viagem para um lugar com menos recursos, o que não levariam.

O bairro onde moravam estava começando a ser habitado. Existiam muitos terrenos baldios, e muitos insetos. Portanto era preciso dar um jeito nas moscas e mosquitos. Nada melhor do que aproveitar a saída de todos e dar umas bombadas de Flit na casa. O tal do Flit era um inseticida colocado dentro daquilo chamado bomba. Um objeto rudimentar, pré-histórico, como um cilindro, e que num movimento constante de puxa e empurra de uma espécie de êmbolo que liberava o veneno bastante fedorento.
A pequena mudança já estava acondicionada, o pai, ela e o irmão acomodados dentro do carro aguardavam o momento da largada. A mãe ficou encarregada de fechar a casa e passar o Flit.
Finalmente! Todos prontos?
Podemos ir embora?
Não falta nada?
Cadê o bebê?
Como ninguém pegou?


“Me conta a história da galinha ruiinnva?” A irmãzinha pedia.
“Era uma vez uma galinha ruiva que encontrou um grão de trigo...”
Mal acabava...
“Me conta a história da galinha ruiinnva?”
“De novo?”
E durante infância da irmã a galinha ruiva plantou e replantou aquele grão de trigo, fez e refez aquele pão infinitas vezes, pois ela se recusou a introduzir bruxas e lobos no mundo da criança.
Queria poupá-la das coisas ruins da vida nem que para isso tivesse que contar sempre a mesma história:
"Era uma vez uma galinha ruiva"...


Num aniversário da irmã o tempo não colaborou nem um pouco. As crianças foram obrigadas a permanecer dentro de casa. Com um “pequeno” detalhe: a mãe não queria gritarias e nem correrias pela casa e fazia questão de permanecer em paz na sala de visitas conversando com suas amigas.
Foi designado para as crianças permanecerem no maior aposento da casa. Elas cheias de energia, num dia de chuva, numa época em que não havia DVD, karaokê ou videogames; um dia que absolutamente nada havia sido preparado para uma emergência desse tipo; uma situação que precisava ser controlada por uma adolescente que não tinha a menor idéia do que fazer para que as horas passassem rapidamente e aquela festa acabasse de uma vez por todas.
Evidentemente havia um líder agitador de massas que provocava a rebelião entre os convidados.
A pressão era muita e como uma panela Marmicoc ela explodiu, por um motivo qualquer brigou com todos e colocou-os de castigo, aniversariante e convidados, confinados, fechados no quarto!
Como a irmã deve tê-la odiado! Que lembranças terríveis deve ter daquele aniversário! Que comentários deve ter ouvido na escola nos dias seguintes a festa?
“A festa dela foi uma droga! A irmã dela nos deixou de castigo no quarto!”
Fazer o que?
De um lado a mãe pressionando:
“Dê um jeito nessas crianças!”
Do outro lado as próprias no auge da sua peraltice.
O mínimo que ela pode fazer pela irmã nos dias de hoje oferecer algumas sessões de terapia para solucionar o trauma da festa de aniversário confinado se houver. Caso contrário quem deve fazer terapia é ela para resolver a sua culpa, por ter sido uma estraga festas.
Se fosse hoje deixaria os bichos soltos e a mãe que se virasse. Onde é que já se viu?


Ela deveria ter uns dezesseis, dezessete anos quando a rua onde moravam começou a ser asfaltada. Nem estava pronta ainda e os meninos da vizinhança já desciam ladeira abaixo com seus carrinhos de rolimã. Ela estava louquinha de vontade de juntar-se a eles, mas o pai já havia decretado:
“Não quero te ver na rua com os moleques!”
“Cruzes! Que horror! Como é que ele fazia isso? Ler os meus pensamentos? Como é que ele sabia que era justamente o que estava querendo?”
Tudo bem ela não podia.
Mas o pai não falou nada sobre satisfazer o desejo incontrolável da irmã.
“Hei! Você quer andar de carrinho? Te dou um pirulito depois!”
Lá foram as duas de mãos dadas, carrinho de rolimã surrupiado do irmão embaixo do braço, se misturar com a molecada.
Riram e brincaram um bom tempo. Na maciota, pois um dos meninos arvorou-se de empurrá-las todas às vezes. A única vez que ela foi empurrar o carrinho torceu o pé e caiu com a mão esquerda espalmada no asfalto fresco.
“Merda!”
Uma das vizinhas solicita, correu acudi-la, limpar o sangue, tirar as pedrinhas do ferimento.
Acabou-se o que era doce.
Voltaram as duas de mãos dadas, ladeira a cima, carrinho de rolimã surrupiado do irmão embaixo do braço, ela mancando e ainda por cima com a mão toda ralada.
Se fosse só o pé podia dar uma desculpa qualquer, mas a mão! Ainda mais com aqueles pedacinhos de asfalto incrustados nela... não tinha a menor chance!
Hora do jantar. A família reunida. Tudo transcorria normalmente. O pai não percebeu nada mesmo estando sentado ao seu lado. Ela deu um jeito de manter a mão no colo, embaixo da mesa durante toda a refeição. Dos males o menor: já pensou se fosse a direita?
Mais um pouco e poderia ir para o quarto.
A irmã, sua cúmplice e companheira, sentada na sua cadeirinha ao seu lado, lambuzada de sopa, diz candidamente:
“Você não vai mostrar teu dodói pro papai?”

12/04/08





domingo, 6 de abril de 2008

Calamidade Pública

Antes eram chamados de kitinetes. Depois foram promovidos a studios. Agora são anunciados como apartamentos compactos. Tudo variação sobre o mesmo tema: o espaço mínimo para um ser humano viver. Quarenta metros quadrados... Esta medida deve comportar quarto, cozinha, sala de estar, jantar, lavanderia, escritório. O milagre da multiplicação.

Na maioria das vezes temos as coisas como tão certas que nem nos damos conta delas. Um exemplo?

O banheiro.

Banheiro?

Por que essa cara de nojo?

Não vai me dizer que não usa banheiro?

Caga onde? Na cozinha?

Não sei o porquê desse preconceito, tanto quanto do pobre do cômodo quanto do próprio ato em si. Conhece alguém que seja tão nobre, ou tão metido a besta, que nunca tenha cagado? Eu não. Aliás, queria ver alguém que ficasse sem fazê-lo por uns dias no que se transformaria. Por certo a merda iria consumi-lo, sairia por seus poros em forma de suor e teria bafo de merda também. Essa criatura corria o risco de desintegrar-se, de sumir pelo ralo caso puxassem uma descarga ao seu lado.

E continua com essa cara de enjôo mediante a simples menção da palavra merda ou aquele seu sinônimo que enche a boca, bo – s - ta?

Há cerca de cem anos não existam banheiros como os de hoje em dia. Para ninguém. Nem mesmo reis, rainhas ou o papa tinham um mísero banheiro. Já foi consenso entre os humanos que não adiantava ter grana porque todo mundo fedia igual. Ricos e pobres, o bodum era o mesmo.

Ela sempre tivera uma vida confortável. O apartamento onde morava com o ex tinha duas suítes, lavabo e banheiro de empregada. Mas os tempos mudaram. Separou-se. Mudou de vida. De casa. Foi morar num ...”apartamento compacto” . Uma gracinha! Casa de boneca!
Até que...

...a privada entupiu!

Vai me dizer que nunca passou por isso?

Aquela sensação maravilhosa do dever cumprido. Você olha para o vaso e pensa com orgulho:

“Que bela cagada!”

E dá a descarga, como sempre.

Só que a água, em vez de descer, enche, cresce, multiplica-se... aproxima-se da boca do vaso ameaçando transbordar e alagar tudo com sua obra prima malcheirosa. Sobe... sobe... e pára bem na beira.

Foi o que aconteceu naquela manhã.

Ela estava atrasada, muito atrasada. O despertador tocou, virou para o lado continuou dormindo. Quando levantou, já era. Para piorar, o intestino que normalmente não funcionava, resolveu dar o ar de sua graça. Não só uma, mas mais de uma vez. Seja a quantidade ou a qualidade, se soubéssemos o que causa entupimento, os rooters-canos da vida não precisariam mais existir.

Enfim a profecia cumpria-se: “Tudo o que dá errado ainda pode piorar.”

Não, não podia respirar muito fundo para ficar calma. Teria que dar um jeito. Manter a cabeça fria era essencial. Manter baixo o nível da água, idem. Deu uma descarga curta, pouca água.

Sobe, desce. Enche, esvazia.

Enfiou-se embaixo do chuveiro gelado. Detestava água fria. Mas, nessa altura do campeonato, fazer o que, já estava tudo perdido mesmo.

Olhou de rabo de olho para a privada ao sair do banho. A água esgotara toda. Só sobrou o que? A merda, óbvio.

Coca-cola lembrou, não dizem que desentope tudo? Quantos litros seriam necessários para jogar ali? Mas não tomava coca, só Pepsi, será que é a mesma coisa? E tem mais, quer dizer, menos, não tinha nem uma, nem outra, muito menos pretendia sair para comprar refrigerante para jogar na privada.

Decidiu: não iria mais a lugar algum enquanto não desse um fim naquele transtorno. Já pensou voltar à noite morrendo de vontade de fazer um mísero xixi e encontrar seu único banheiro naquele estado de calamidade pública?

Declarou guerra à bosta: “Vencer ou morrer!” E deu a descarga novamente.

A cada vez que voltava para certificar-se de que a água já havia escoado, lá estava aquele pedacinho de merda espreitando num cantinho escuro. Ela dava a descarga.

“Agora ele vai”, pensava.

E, realmente, por segundos ele desaparecia levado pelo jato da água. Para reaparecer provocativo logo em seguida. Tinha a nítida impressão de que ele estava zombando dela. Assim que ela virava as costas ele vinha, sabe Deus de que canto obscuro das entranhas daquela privada, para ficar encarando-a. Cada vez que olhava para dentro do vaso lá estava ela, a merda teimosa, a que fingia que ia, mas que sempre voltava para aterrorizá-la.

“Que merda!” Literalmente. Que corpo estranho ela tinha expelido? Um pedaço de ferro? De aço? O que era aquilo que a água não levava, diabo verde não dissolvia, desentupidor não desmanchava?!

Agora era uma questão de honra! “Ou ela ou eu”, pensou. “Esse território é pequeno demais para nós duas.” Tomou uma difícil decisão: a merda iria embora, nem que fosse no muque. Não se comoveria com aquele olhar pidão. Afinal, só tinha aquele banheiro, não podia bater na porta do vizinho pedir para usar o banheiro dele. E se acontecesse a mesma coisa? Procuraria o próximo vizinho? Bateria de porta em porta entupindo todas as privadas do prédio até que a Defesa Civil interditasse o prédio?

Como não tinha luvas de borracha, o jeito era improvisar.

“Sacolas de supermercado”, brilhante idéia. Embrulhou a mão até o cotovelo. “Uma sacola não era o suficiente. Duas... três por garantia... melhor quatro... talvez cinco, nunca se sabe. Precaução nunca é demais”. Aquela merda parecia ter vida própria, vai que resolvesse atacá-la. Para o embrulho ficar bem seguro uma camada de filme plástico.

Ajoelhou, fechou os olhos, mirou bem o centro e mergulhou o braço bem no fundo, tateando o infeliz buraco ou seja lá que raio de nome pudesse ter aquele local por onde a água deveria fluir sem problemas. Não encontrou nenhum corpo estranho que pudesse estar causando a obstrução.

Sentada ao lado do vaso sanitário pensou ter chegado ao limite da decadência de um ser humano. Quando ouviu um ruído esquisito de água. Algo como um gargarejo.

E a água finalmente escorreu, livremente, tubulação abaixo.

Descobrira o que onde está a verdadeira felicidade:
Não está numa viagem a Paris, nem num apartamento na 5ª. Avenida.
Não está num diamante Cartier, e nem numa Ferrari.

Ser feliz é saber que sua privada está livre e desimpedida para poder ser usada a qualquer instante.

sábado, 5 de abril de 2008

Um limão entre laranjas.

Existe família que não tenha ninguém com mais de setenta anos? Vasculhando seus conhecidos não conseguiu lembrar de alguém que não tivesse nem um único parente na chamada “melhor idade”. Sabia que um dia chegaria lá também. Os sinais externos eram visíveis tanto no espelho quanto fora dele.

Lembrava de quando era mais nova e gostava de pegar na pele flácida do braço da avó para sentir sua textura. Possivelmente a avó não achava graça, mas nada dizia.

Hoje só de olhar para o seu braço podia perceber que sua própria pele já não era mais tão jovem e firme por mais hidratada que estivesse de fora para dentro, de dentro para fora e todos os outros blás, blás, blás...

Ainda outro dia o olhar atento da filha da amiga sentenciou (uma criança de quatro anos é sempre um perigo!):

“Você não tem o pescoço dobrado!”

Criança querida e bem educada! Ela, na sua inocência, confirmou que o coquetel Molotov de vitamina C com colágeno aplicado nas dobras do seu pescoço em 365 picadas, graças aos céus, funcionara. Valeu o sacrifício de cada uma das agulhadas transformadas em caroço de ervilha, obrigando-a usar gola olímpica durante quinze dias em pleno verão.

Sempre se podia dar um jeito no lado de fora. Um reboco aqui, uma massa corrida ali, uma mão de tinta, uma reforma básica e fica tudo quase como novo. Mas o que lhe tirava o sono, deixando-a com mais olheiras e rugas, eram as atitudes gagá das mulheres de sua família. Morria de medo de ficar como elas. Genética é genética, todos sabem que a fruta não cai longe do pé...

Rezava para que com ela fosse diferente.

Psicólogo, Psiquiatra, PNL, Geriatra, Ortomolecular, qualquer coisa para o cérebro continuar funcionando.

Naquele dia, entrou na confeitaria, pediu um refrigerante com hipocrisol e uma trufa de chocolate para contrabalançar. Dizem as más línguas que as verdadeiras curitibanas pedem salada, tomam refrigerante diet e comem uma torta de chocolate como sobremesa. Para elas essa é uma refeição perfeitamente equilibrada. Maldade pura.

As mesas eram coletivas. Sentou quieta em seu canto pensando em nada, mas como audição é uma coisa que não tem botão de liga/desliga, começou a ouvir a conversa das companheiras de mesa. Duas senhoras de cerca de...hoje em dia é difícil precisar...mais de sessenta e cinco?
Que seja.

Uma já estava instalada. A outra chegou, o lugar estava livre, pediu licença, sentou. Não se conheciam. Começaram a conversa elogiando os doces.

A primeira falou que aguardava a filha. Tinham saído para comprar o enxoval da moça que estava para casar (começaram a trocar confidências). Depois do casamento, quando tivesse mais tempo livre, pretendia aprender a bordar.

A segunda incentivou-a dizendo que já tinha feito aulas de ponto cruz, recebeu diploma que lhe dava até direito de lecionar!

Uma contou sobre seu grupo de caminhada, a outra falou de suas aulas de dança e sobre os saraus de sábado à tarde, também chamados “bailes do pãozinho”:

“Porque baile do pãozinho?”, perguntou, curiosa.

“Do lado da aula tem uma panificadora, e descobrimos que um dos velhinhos comprava um pão Francês e punha no bolso da calça para fingir que ficava com tesão ao dançar!”, explicou a dançarina e riram às gargalhadas da artimanhas do garanhão frustrado.

Ela ouvia a conversa e não podia deixar de lembrar de sua mãe. Anos atrás, ao convidá-la para fazer um curso de bonecas de pano, obteve como resposta:

“Eu? Sair de casa para aprender a fazer bonecas de pano? Tudo o que deveria ter aprendido nesta vida já aprendi. Não quero aprender mais nada!”

Ela lembra de ter ficado tão indignada com a resposta que sugeriu para a mãe que comprasse seu caixão, colocasse-o no meio da sala, deitasse dentro e lá permanecesse esperando a morte chegar. Para ela alguém que se recusa a aprender alguma coisa é porque já morreu, essa foi a sua conclusão.

Lembrava também da tia de oitenta e cinco anos, que muito se orgulhava de aparentar setenta. Na maioria das vezes ela tinha uma cabeça muito mais aberta do que sua mãe que, essa sim, tinha realmente setenta. Com cabeça de oitenta e cinco, quem sabe? Mas, mesmo para a tia cabeça aberta, quando o assunto era alguma espécie de atividade, qualquer que fosse, até mesmo bordado, tricô ou crochê, a conversa virava tabu. Sabia tudo o que se passava no mundo, mas não fazia nada, não gostava de nenhum trabalho manual.

Ela, às vezes, provocava:

“Tia, eu venho sábado te buscar para irmos dançar no programa da terceira idade.”

A tia muito ofendida respondia:

“Imagine se vou dançar com aqueles velhos!”

Quem ela queria como par? Brad Pitt? Será que se ela soubesse do truque do pão Frances não mudaria de idéia?

Por essas e por outras, ia verificar qual era o santo dedicado à agricultura, e se tornaria sua mais fiel devota. Faria promessas, novenas, rezaria o terço de joelhos dia e noite, noite e dia. Pediria pelo milagre de ser um limão no meio das laranjas da sua árvore genealógica, ou então, que, com um impulso, caísse bem longe do seu pé.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

E Ragnilde foi a Madagascar.

Ragnilde era uma eloá que vivia na costa africana próxima da ilha de Madagascar.
Mas uma coisa a diferenciava, e muito dos outros membros da manada.
Ela era rosa. Rosa com pintas amarelas.


Ragnilde vivia muito só, pois por ser diferente não era bem aceita pelos outros elefantes.
Não era só o fato de não ser como os outros, mas sentir-se diferente, como se fosse de outro planeta.
Ela não era desprezada, mas era uma coisa que sentia e não conseguia explicar.


“Se ao menos eu fosse só rosa...”


“Se ao menos eu fosse cinza com as pintas amarelas...”


“Se ao menos eu me chamasse Marie...” pensava a insatisfeita e melancólica Ragnilde a eloá rosa com pintas amarelas.


Ela era incapaz de explorar o fato de ser especial, a única no mundo. Queria ser como todos os outros. Exatamente iguais. Todos cinza.
Todos com o mesmo nome.
Queria ser apenas mais um elemento naquela manada de elefantes que vivia na costa africana próxima da ilha de Madagascar.
Sentia-se muito só, mesmo na multidão do seu grupo. Mal sabia ela que a resposta para suas angústias estava muito mais próxima do que ela ousava imaginar.
O que Ragnilde não sabia é que todas as respostas estavam dentro dela mesma.


Uma tarde caminhava na praia ao entardecer. Olhando o sol se por avistou bem ao longe, na linha do horizonte a ilha de Madagascar.


“Será que lá naquela ilha existem elefantes cor de rosa?”


E preparou-se para partir. Despediu-se da sua manada e na manhã seguinte muito cedo quando o sol ainda nem havia levantado iniciou sua aventura.
Foi entrando no mar devagar e quando não podia mais caminhar começou a nadar.
Nadou.
Nadou.
Nadou até chegar exausta nas areias brancas da ilha. Como estava muito cansada da longa travessia, deixou-se ficar ali mesmo, deitada naquela areia fina e muito branca, que estava morna, aquecida que fora pelo sol que estava se pondo.


Ragnilde levantou os olhos e olhou para o céu ainda azul, onde a primeira estrela já piscava.
Então outra começou a brilhar. Depois outra. Mais outra e outra...
Ela olhava e pensava:
“Aqui da Terra todas as estrelas parecem iguais. Parecem, mas não são. Cada uma delas é um planeta diferente. Cada qual com sua característica, cada qual com sua individualidade. Um totalmente diferente do outro.”
Voltando seu olhar para o chão observou:
“E esses grãos de areia são exatamente iguais uns aos outros? Para meus olhos eles se parecem, mas seriam iguais? Tenho cá minhas dúvidas.”
“Os flocos de neve, a uma primeira vista parecem todos bolinhas, mas quando observados cuidadosamente sob lentes de aumento vê-se que eles tem diversas formatos como estrelas que não se repetem. Um arroubo de criatividade do Criador. Ele deveria estar especialmente inspirado quando criou os flocos de neve. Isso significa que a criatividade não tem limite. Não tem fim.” Concluiu.


Deitada na areia agora a noite chegara sob o céu estava coalhado de estelas prosseguia com seus pensamentos:
“Não posso deixar esquecer as flores, cada qual com seu perfume, sua cor e textura. Os próprios seres humanos têm as características básicas da raça humana como duas pernas e braços, cabeça, dois olhos, cabelos ( é, alguns não tem cabelos...), mas são todos diferentes. Nossos olhos pequenos só enxergam suas as semelhanças. Somos tão limitados, apesar de nosso tamanho de elefantes, que não conseguimos ver um pouco mais além daquilo que está diante de nossa tromba.”


“Eu sou Ragnilde uma eloá rosa, com pintas amarelas. Sou a única da minha espécie. Deveria sentir orgulho disso, sem ser presunçosa, mas não! Estou sempre infeliz por não ser como os outros.”
“Eu nadei até Madagascar. Nenhum outro membro da minha manada jamais se atreveu a tal feito. Isso fez de mim uma pioneira e reforçou ainda mais a minha condição de ser especial.
“Desde que aqui cheguei estou tendo essa oportunidade maravilhosa de poder refletir.”


Atenta ao rumo de suas idéias dava continuidade: “ Isso tudo é meu. São as minhas experiências. Posso contar para os outros membros da manada, mas não posso exigir, e nem aos menos querer que eles me sigam. Ou partilhem dos meus ideais, ou crenças. Não posso exigir que o grupo me aceite.
Cada um de nós está na sua própria etapa de crescimento e evolução. Tem os que vão rir e debochar, os que nem vão ouvir, e haverá, sim, os que irão se interessar e questionar. E quem sabe, até um dia seguir o meu exemplo, nadar até Madagascar e aqui nessas areias filosofar, ter a oportunidade de empreender essa viagem fantástica para dentro de si mesmo. “E ali descobrir coisas novas que estavam esperando o momento e a oportunidade certa para se revelar para nós mesmos.”


“Estou muito contente por ter vindo! Que bom que eu tive coragem de enfrentar meus medos e ultrapassar meus próprios limites. Estou exausta, mas creio que foi este cansaço que me permitiu desvendar o véu que encobria o que estava dentro de mim mesma. Amanhã cedinho nado de volta para casa para contar as novidades para todos. Que eu a eloá Ragnilde precisei nadar até Madagascar para descobrir que todos nós temos em nosso interior tanto elefantes rosa com pintas amarelas quanto cinza. Depende de nós escolhermos e querer qual deles é mais importante e fazer com que ele sobreviva e sobressaia mais que o outro. De posse desta informação podemos escolher ser feliz assim mesmo.”

06/03/2000

História de amor do gato e gata

A vida real não é como os contos da carochinha.
Ela é feita de descobertas, paixões e encontros. Também de desencanto e desencontros.


A gata é malhada. Mistura de muitas cores e muitas raças.
Pelo opaco sem brilho. Olhar ágil e astuto.
Postura rastejante, corpo e cauda pregados ao solo.
De andar sorrateiro extremamente hábil.
Seu universo não tem nenhuma fronteira. Vive o tempo presente.


O gato é marrom. Suas patas e orelhas são pretas. Resultado perfeito do cruzamento de raças puras.
Pelo lustroso, brilhante. Olhos azuis de ar entediado.
De porte elegante, andar perfeitamente harmônico com o seu perfil.
Vê o mundo de uma janela. Sabe que seu amanhã está assegurado.


A gata mora na roça e caça ratos.
Não pertence a ninguém e ninguém lhe pertence.


O gato mora na cidade e come ração balanceada.
Passeia no carro de seu dono.


A cidade é muito distante da roça, portanto a gata e o gato não se conhecem.
O dono do gato não pretende mudar para o campo, pois está realizado em meio à poluição e o progresso.
Os horizontes da gata vão para muito além daquilo que ela pode ver, mas ela não é capaz de imaginar o que seja uma cidade.
O gato e a gata, não irão se encontrar jamais.
Não vão namorar ou ficar. Nem se casar, e muito menos ter filhotes.


Além de todas suas diferenças o gato é gay.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Primeiro de Abril –Dia da Mentira

Escrito em 1°. De Abril de 2000

Quando somos crianças esperamos por todas as datas comemorativas com ansiedade.
Natal, Páscoa, o dia do aniversário, esse então, parecia que nunca chegava!
No meu tempo esperava até pelo primeiro de Abril.


Ficávamos meio apreensivos, talvez nem quiséssemos sair da cama, ou quem sabe do quarto que era um lugar seguro, evitando assim que nos fizessem de bobos.


Agora que somos adultos, esse é só mais primeiro dia do mês igualzinho a todos os outro onze.
Não tem mais nenhum outro significado, a não ser que seja o dia de pagar alguma conta, água, luz ou telefone, sem as quais não podemos viver.
Ou então, melhor, que seja o dia de receber, a aposentadoria, o aluguel, ou a pensão do ex-marido, o que quer que seja, que no final das contas será insuficiente e não vai chegar até primeiro dia do próximo mês.


Será que para as crianças do Século XXI, do mundo globalizado e informatizado, essa data tem algum significado especial como tinha para a minha geração?


Eu esperava pelo primeiro de abril, imaginação à solta, queimando os neurônios, criando mentiras para pregar no irmão, na empregada, na colega de sala, e até mesmo, (que audácia!) na professora.
Imagino que me achasse o gênio criador de mentiras.


Lembro principalmente quando nossa vítima era um adulto. Estava na nossa cara deslavada, no nosso jeito- sem -jeito que aquilo era uma mentira de primeiro de abril.
Sabem o mais? Analisando agora, percebo que nós é que éramos enganados pelos adultos que fingiam que acreditavam nas bobagens que estávamos contando.


Deve ser por essa razão que nos Estados Unidos o primeiro de abril é chamado de Fool’s Day, ou seja o dia do bobo.


Aliás, deveríamos ter nós também o nosso dia dos bobos.
Bobo, no sentido de ingênuo, inocente, de criança.
Nesse dia deixaríamos de lado as nossas preocupações de adultos tão sérios e importantes, e dedicaríamos o dia para a criança que ainda existe dentro de nós.


Poderíamos, por exemplo, neste dia, livrá-la da gravata, do salto alto, do celular, dos “tem que”, dos “agora não posso”, dos “a tal hora em ponto”. Levaríamos nossa criança ao passeio público, ao cinema, ao parque. Comprar pipoca, balas de goma, balão de gás, daqueles que escapavam da mão e iam embora deixando-nos inconsoláveis.

Poderíamos permanecer na cama por mais tempo com aquela sensação de ser poderoso e estar cabulando a aula.
Quem sabe dar-lhe um brigadeiro, uma maçã do amor, algodão doce. Deixá-la andar descalça e pisar em poça de água sem receio de ser castigada. Levá-la para brincar de pique, pular corda, andar de carrinho de rolimã.


E que tal se ao invés de uma vez por ano, uma vez por mês déssemos uma maior atenção a nossa criança interior?



Ou então se prestássemos atenção nela todos os momentos do dia? Porque que ao nos tornarmos adultos, seres responsáveis , cumpridores de nosso deveres, temos que esquecer definitivamente dela? De tudo que gostávamos na nossa infância?


O que impede que naquela reunião chata seja servida pipocas para todos os membros da diretoria? Porque não pedir licença, e tirar os sapatos e pisar com os pés descalços naquele carpê que parece tão macio.


Com certeza os problemas terão outra dimensão, não parecerão tão terriveis, e nós sem a menor sombra de dúvida pareceremos uns bobos aos olhos dos outros.


Bobos, mas muito mais felizes e leves.

Primeiro de Abril, dia dos bobos.

Em Inglês Fool´s Day. O dia dos bobos. Para nós o dia da mentira.
O que é um bobo?
Quem é bobo?


Uma pessoa inocente, ingênua? Aquele que acredita no outro metido a esperto pronto a tirar vantagem em tudo?
O ingênuo com certeza será enganado. Ao dar-se conta ficará desapontada podendo até sentir raiva de si mesmo por ter feito papel de...bobo.


O esperto sente-se o máximo, orgulhoso de sua inteligência em conseguir mais um otário para cair na sua lábia.
Mas ele esquece ou talvez nem saiba que o Universo está atento a tudo o que ele faz. E que tudo isso lhe retornará um dia multiplicado.


Eu não estou me referindo a planos mirabolantes, golpes de mestres. Estou falando tão somente de pequenas atitudes do dia a dia, como um filho tentando enganar a mãe.
Ele pode ter sucesso por certo tempo, mas a mãe perspicaz descobrirá as artimanhas...ou pode fingir que não vê. Mas no mínimo no futuro ele também terá filhos...


Uma pessoa inocente terá desafios no decorrer da vida como qualquer outra. Mas o espertalhão terá muito mais mesmo que não se aperceba disso.


Conheço uma pessoa que tudo de ruim lhe acontece, sócio passa para trás, casa pega fogo, é assaltado, já perdeu a conta das vezes que teve o carro roubado. Vive a lamentar sua má sorte:
“ Tudo acontece comigo! Sou um azarão!”


Mas ele não presta atenção nas suas ações, pois na hora de cobrar por seus serviços sempre dá um jeitinho de cobrar a mais do que o combinado, não devolve o que empresta, esquece o que promete, usa o que não lhe pertence sem pedir licença... porque será que ele é tão “azarado”?


Com certeza, o dia em que ele começar a dar a devida atenção a esses ”pequenos “ detalhes quotidianos, e começar a tratar o outro com o devido respeito ao invés de fazê-lo de bobo, a sorte sorrirá para ele.


Um outro, com grande poder aquisitivo, foi procurado por uma pessoa da família, desesperada e aos prantos, para pedir-lhe quatro mil reais para pagar o financiamento da casa que estava atrasado. Ele recusou dizendo que não tinha esse dinheiro.
Três meses mais tarde ladrões entraram em sua casa.
Ele afirmou: “Não tenho dinheiro! “
O Universo simplesmente conspirou ao seu favor e tornou a sua afirmação real.

Chego então ao reino da mentira com um exemplo:


Um amigo muito próximo me pede cem reais emprestado. Por maior boa vontade que eu tenha, eu não posso aJudá-lo nesse momento. Explico meus motivos, conversamos, tudo está bem.
Mais tarde fazendo uma arrumação numa gaveta, o que encontro?
Duzentos reais, que havia escondido há muito tempo e tinha esquecido completamente da sua existência.
Alegro-me pois agora posso ajudar meu amigo. Deixo o dinheiro sobre um móvel e saio a sua procura.
Nesse meio tempo ele volta e ao ver o dinheiro ali imediatamente pensa:


“Que sacana mentiroso! Tinha o dinheiro e não quis me emprestar. Isso não é amizade...”


Pergunto:
Onde está a mentira?
No momento que eu recusei o empréstimo realmente eu não tinha os cem reais, aquela era a minha realidade.


Ao imaginar que eu tinha o dinheiro e deliberadamente recusei o empréstimo meu amigo criou a sua realidade.


O uso da palavra mentira é muito subjetivo, pois a partir do exemplo citado percebemos que o que pode parecer uma mentira para um é a verdade sob o ponto de vista do outro.
Portanto vamos ter boa vontade e muita paciência com o outro e tentar perceber que a realidade dele jamais será a mesma que a nossa antes de chamá-lo de mentiroso.


Tenha um ótimo 1º de Abril!

1°./04 /2008


quinta-feira, 13 de março de 2008

Mulher Gato.

Amava os gatos profundamente.
Amava-os e respeitava-os.
Identificava-se com eles.


Amava sua solitude.O seu só ser.
Não conseguia entender aquelas pessoas que viviam a reclamar de solidão.


Tivera desde sempre, muito claro , o sentimento de ser só.
Nascera só.
Não dividira o útero materno com nenhum irmão gêmeo. E também, se o tivesse feito, na hora do parto, só haveria espaço para um de cada vez.

Tinha também a certeza de que se por ventura morresse num desastre daqueles de grandes proporções – aqueles que vende muita revista, e que é noticia por muito tempo – cada alma teria seu próprio momento.


Seguia então o seu caminho pela vida.
Os gatos, como ela, também, seguiam seus próprios caminhos.
Quando queriam, faziam com que eles se cruzassem.


Quando ela chegava a casa, iam à porta recebê-la.
Arqueavam as costas, esfregavam-se em suas pernas, marcando-a com o seu cheiro.
Ou então arranhavam seus sapatos, olhando fixamente nos seus olhos.
Demonstravam imenso prazer em ter-la de volta ao lar.
Satisfeitos com ritual de saudação e sedução, ocupavam-se novamente de si mesmos.


Eles a tinham, quando eles queriam.
Quantas vezes ela encontrava-se frustrada, carente, tentava então manter um deles em seus braços.
Queria acariciá-lo, aliviando a sua necessidade de toque.
Eles sujeitavam-se por segundos.
Concediam-lhe míseras esmolas de sua boa vontade. Mas assim que o abraço afrouxasse um pouco, um salto ágil o colocaria em um local seguro. Onde então fariam uma higiene vigorosa procurando livrar-se rapidamente de toda sensação daquele contato indesejado.


E ela ficaria com as mãos vazias.


“Gatos só fazem o que querem, quando querem.”


Não precisam... ter que sorrir sem vontade,
ter que ir querendo ficar,
ter que falar querendo calar...


Que inveja!

Agosto 2000

terça-feira, 4 de março de 2008

Chronos.

Março, abril, maio... mais um pouco já é dezembro outra vez e acabou mais um ano. Meses. Dias da semana. Horas. Segundos. Calendários. Relógios...
Uma parafernália sem fim para medir o tempo que segundo algumas teorias não existe. Não passa de uma ilusão, de um produto de nossa mente.


Tic tac tic tac fazia o “produto da minha mente” como uma bomba relógio prestes a explodir.
“Eu sou capaz, eu posso, eu consigo!” repetia para mim mesma o mantra enquanto desfilava as probabilidades. Como sempre deixara tudo para última hora. Sem maiores comentários. Quero dizer, sem comentário algum. Dizer o que? Fiquei fazendo o que não precisava, coisas que poderiam ter sido feitas outra hora, perdi tempo... E olhe que desta vez havia feito uma lista do que deveria fazer na rua, só que...


Tenho um compromisso em casa às 16h40min. São 15h30min. Já não estou mais a fim de sair. Resolvo: “Eu vou! E estarei de volta a tempo de receber a pessoa que irá chegar!”

Checo a lisataaaaaaaaaaa:

Pagar condomínio no HSBC

Devolver livros na biblioteca

Pegar Xerox

Fazer depósito para encomenda de CDs no Banco Bradesco

Fazer depósito para encomenda de livro no banco Itaú (percebe aonde vai o tempo? Não podia ser tudo num banco só?)

Comprar doces para mandar de presente para amiga que mora na França,
e levar os doces para a pessoa portadora.


Buscar um contrato com o ex (que já deveria ter pegado há pelo menos dez dias) e que deverá ser levado ao banco (nos próximos cem anos?!?!?!)

Na portaria recebo algumas correspondências.Olhando rapidamente vejo contas que devem ser pagas no HSBC. Essas ficam para manhã junto com o condomínio. Mudança de esquema. Pois óbvio que alguma coisa terá que ser cortada do plano original.

Devolvo os livros. Tic Tac. Com atraso de dois dias. Não cobraram multa. Ainda bem. Faltou um. Deixaram mais uma semana. Quero devolver logo de uma vez.

Vou a pé que chego mais depressa. Depósitos bancários? Nem pensar! Qualquer coisa que se refira a banco nessas alturas do campeonato fora de cogitação, pois o tic tac deles já era.

Está muito quente. Lembrei que não havia almoçado. Já que preciso pegar o tal contrato com o ex aproveito para filar um lanche. Liguei do celular. “Faz o favor de fazer dois (a fome era imensa!) sanduíches? Não, não é para entrega eu vou buscar!”

Já estava quase chegando ao atacado dos doces quando lembrei um "pequeno" detalhe:
Estava a pé! Iria comprar pelo menos duas ou três embalagens grandes de paçocas, outro tanto de balas de gomas, doce de abóbora de coração tudo o mais de besteiras que pudesse imaginar que a amiga pudesse querer. Mas carregar como? E tinha mais o tic tac tic tac
Entrei na lojinha feito um furacão, antes de escolher perguntei se havia a possibilidade de entregarem, afinal não era longe...ótimo! E lá vão as paçocas meio caminho rumo à França!!!
O que falta?


O documento, e os sanduíches.
Claro que ali empacou. O ex tinha que explicar o inexplicável e ela só ouvia o tic tac.
Antes de sair ainda perguntou que horas eram: 16h18min.


Na estica. Mas ainda dava tempo de chegar a tempo.
Mal andou cerca de dez passos celular tocou:


tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac.

“Cheguei!”
“Como?”
“Deu tudo certo eu me adiantei e pude chegar antes.”
“Então tá...”
tic tac tic tac tic tac tic tac


Quando a pessoa saiu as 18:30 horas desci junto para ir buscar a Xerox.

Na esquina um barzinho por onde já havia passado várias vezes. Passei direto. Parei. Uma fração de segundos. Será?

E daí que é terça-feira? E daí que eu não bebo? E daí que estou sozinha?

“Quero uma carne de onça”

Ficar olhando para os lados é de morrer!

Peguei o livro e comecei a ler.

“Para beber?”
“Uma Malzebier.”


Encostei na cadeira, olhei com atenção o copo com a cerveja escura, a espuma espessa quase caindo para fora. Suspirei.

Prost!

Tic tac tic tac.

04/05/2008

segunda-feira, 3 de março de 2008

Brinquedos de Criança

Quem tem “certa idade” já não lembra ou finge que se esqueceu de coisas de seu tempo de criança.
Brincadeiras de crianças que vivem em apartamentos em cidades grandes, nem pensar.
As crianças de hoje em dia quando não estão nas aulas disso ou daquilo, estão em frente ao computador. Já não vivem soltas pelas ruas brincando como fazíamos.


Mas durante o verão as coisas mudam. Literalmente. As famílias se mudam. Saem das cidades rumo ao litoral e lá mesmo que fiquem em apartamentos as crianças espalham-se por todos os lugares, inclusive as ruas.
Mas tem coisas que não consigo compreender...


Estava eu sentada na beira da praia lendo um livro, quando reparei numa garotinha de cerca uns quatro anos que parecia Cachinhos de Ouro. Sabem quem é? Aquela chata e mal educada da história dos três Ursos que comeu o mingau sentou e quebrou a cadeira, desarrumou a cama, e ainda ficamos ouvindo o ursinho choramingar a história inteira: “quem comeu meu mingau? Quem quebrou minha cadeirinha?”

A Cachinhos de Ouro da praia brincava calmamente com seu baldinho fazendo castelos de areia, quando re repente, não mais que de repente, sei lá por que estranha razão se um salto colocou-se em pé, abriu os braços e começou a girar...
Girava, girava...
“Currupiu, piu, piu...
A galinha me cuspiu...
(Galinha cospe? Como pode isso? Então ela também baba? Irgh! Que nojo!)
E o papai nem viu!
(Tá e daí? Se o papai visse que providências ele poderia tomar contra a galinha cuspideira? Um lenço? Uma escarradeira? Iria abrir um guarda-chuvas?)

Girava como um pião descontrolado enquanto recitava o mantra sem nexo.
Eu já estava nauseada quando Cachinhos de Ouro despencou sobre seu castelo de areia tal qual a lavra do Vesúvio quando soterrou Pompéia. Não sobrou nada!
Meu cérebro ainda chacoalhava pela visão rodopiante enquanto algumas lembranças iam e vinham em espiral como num tornado em slow motion: “e eu já brinquei disso!”


O que leva, uma criança aparentemente normal a girar descontroladamente sem nenhum motivo? Enjoada, não cheguei à conclusão alguma.

Estava absorta em meus pensamentos a caminho de casa, quando me deparei com um menino que se balançava na rede na sacada de sua casa.
Balançava, modo de dizer... ele era o maluco da rede.
Quando a rede ia para trás a impressão que eu tinha é que ela giraria 360°. graus. Então eles voltavam para frente. Ele com as pernas bem esticadas dava um impulso muito forte na parede fazendo com que a rede ao voltar fosse mais alto.
Para a frete de novo. Outro impulso. Para trás. Mais alto. Outra vez...



Observando essas brincadeiras me pergunto até que ponto podemos confiar em nós mesmos? Até que ponto podemos confiar nos adultos em que nos tornamos?
Hoje em dia não se fala tanto na descoberta da criança interior?


E se Hillary Clinton torna-se presidente da nação mais poderosa do planeta e num rompante sua criança interior resolve rodar no meio da sua sala presidencial, aproveitando que ela é oval. Dá para imaginar?

E de outro lado do mundo a criança interior de Bin Laden balançando furiosamente no meio do deserto...

Onde é que o mundo pode parar com essas perigosíssimas brincadeiras de crianças?
Nem é bom pensar...


05/01/07

domingo, 2 de março de 2008

Mulheres de Talibã

Por mais que me esforce, por mais que procure sempre dar uma espanada no bolor do pré-conceito, e idéias antiquadas, eu confesso:
- Socorro! Não consigo, compreender o amor entre os jovens.
Ou
- Socorro! Não consigo compreender o amor nos dias de hoje.


Tá bom, vá lá...me rendo e vou dizer aquela frase lugar beeemm comum:
- No meu tempo...
No meu tempo as coisas tinham um principio, um meio e algumas vezes um fim.


Um exemplo?
Se fosse numa daquelas festinhas de garagem com luz negra, cuba libre, som da Jovem Guarda, o grupo das meninas estaria num canto, o dos meninos no outro. Os olhares se encontrariam, e depois de muitos risos e cochichos da parte delas, ele muito sem graça, viria tirá-la para dançar, ainda correndo o risco de “levar uma tábua”. E só.

No sábado seguinte encontrar-se-iam novamente, e o jogo de sedução persistiria. Ele poderia, quando muito acompanhá-la até em casa. Dançariam de rosto colado (hei! vocês sabem do que estou falando?)... as amigas sempre aos par das novidades:
-ele pegou na minha mão...
E o grande evento, era “pedir em namoro”.
Para tudo existia um timing. Tinha primeiro beijo, o primeiro namorado.


Hoje se fica. Com meia dúzia em cada festa. Não existe mais ritual algum.

Em meio a esse caos, qual foi a minha surpresa, ao receber a noticia do noivado da minha prima de vinte e um anos.
- Mas ainda usam isso?Pensei, pois na minha cabeça, noivados encontravam-se nos antiquários juntamente com vitrolas, e os long-plays do Jerry Adriani e Wanderley Cardoso.


Enfim, lá fomos nós para o jantar de apresentação das famílias. Gente que nunca se viu, sentados a mesa. Totalmente sem assunto, sal ou pimenta.
O noivado? Não durou o tempo de vir a fatura do cartão de crédito do pagamento do jantar.


Mas como a vida é cheia de surpresas, semana seguinte sua irmã ficou noiva de um rapaz que conhecera há um mês.
Recebi a noticia assim:
- Prima, estou ligando para te dar o novo número do meu celeular.
Eu, ingenuamente:
- Mudou por quê?
- Era uma oferta, compre alianças e ganhe um celular. Ah! Eu noivei!
- ?!?!?


Um mês depois viajamos todos juntos para passar um final de semana na praia.
Logo no segundo dia o noivo teve uma pequena contusão quando jogava futebol, mas sabe como são os homens, na sua própria opinião já estava tetraplégico e resolveu voltar para casa imediatamente.


Ela bela e faceira, fazia o ritual para ir para a praia se melecando com bronzeador enquanto ele gemia feito um touro atingido por bandarilhas numa tourada.

Resolvi meter minha colher, chamei-a num canto e disse:

(Atenção feministas, vocês, que queimaram souitens em praças publicas, vocês que lutaram pela emancipação feminina, aconselho que parem a leitura aqui mesmo. Sob o risco de se aborrecerem profundamente, terem sérios efeitos colaterais como náuseas enjôos e dores de cabeça, parem. Se continuarem é sua própria conta e risco.)
Para outras mulheres que não se importam em esquentar a barriga no fogão e refrescá-las no tanque, continuemos...


Eu lhe disse que se ele realmente decidisse ir embora, ela deveria ir com ele.
Ela candidamente me pergunta?
- Por quê?
Ai meus sais...
- Você não é noiva dele, guria?
Precisa ser companheira, estar junto. Você já assistiu cerimônias de casamento, pois não? Ouviu o padre dizer: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...
- Hei, espere aí! Eu ainda não sou casada com ele. Além do mais, só tenho uma semana de férias por ano e vou aproveitá-las.


Foi então que a 14ª. Mulher do Sultão se apoderou de mim.
- Você não está casada com ele, mas se pensa assim, nem case. Pois num casamento tem que estar junto, tem que acompanhar. Onde ele estiver você também tem que estar. Se for preciso vai usar burka, e andar dez passos atrás dele.


Ela me olhou muito arregalada.
As coisas se acalmaram, milagrosamente ele foi curado e foram os dois juntos para a praia, ela de biquíni mesmo, sem burka, caminhando lado a lado.


Eu sei que exagerei. Mas foi proposital.
Essas meninas pensam que noivar é tão somente comprar a aliança que vem com o celular, e colocar no dedo e apresentar o rapaz como “meu noivo”.


Imagino que a idéia que façam do casamento seja trocar a aliança para a outra mão, e apresentar o noivo como “meu marido”.

Brincar de casinha também vale.
E separar logo em seguida, porque não deu certo.


O que elas nem imaginam é que nós mesmas somos quem somos as responsáveis por fazer dar certo... ou errado.

O quanto custa ser gentil?

Estar atenta a pequenos detalhes?

Fazer o prato dele num jantar na casa de amigos?

Ele está a fim de discutir? Sair de perto. Se um não quer, dois não brigam.

Ele só pode tomar sol às sete da manhã? Ela só vai à praia depois do meio dia?

Ele tem horários rígidos e ela não?

Negociem. Conversem, cheguem a um consenso do que for melhor para os dois.

Mesmo irmãos que são criados juntos, são tão diferentes, uns dos outro. O que dizer, então de pessoas que vem de famílias diferentes, com outros costumes e educação.

Sem diálogo, não existe amor que sobreviva.
Nem se usar burka para se esconder dos problemas. Com certeza um dia eles virão á tona.


04/01/07

Carmem de Bizet.

As pessoas me chamam de “gata”. Mas bem lá dentro de mim eu ouço uma voz que sussurra: “Carrrmemmm”...

Na verdade eu sou uma gata. Preta. Meus pelos são macios e sedosos. Meus olhos são amendoados, cor de ouro e me dão um charme todo especial contrastando com o negro da minha pelagem. Costumo mover-me preguiçosa e languidamente por onde quer que ande. Não tenho pressa. A vida e mundo estão aí para serem vividos e apreciados.

Em dias de sol como hoje, gosto de caminhar pelo jardim, sentir a grama entre minhas patas e chegar suavemente até a bay window da casa. Normalmente, nestes dias os vidros estão abertos, então eu me aproximo e de um salto, alcanço o parapeito onde me deito.

Deste local privilegiado posso ao mesmo tempo usufruir o calor agradável dos raios de sol que atravessam as árvores do jardim e ao mesmo tempo observá-la através de meus olhos semicerrados. Ela sabe que eu estou lá. Mas no momento que chego não faz nenhuma menção à minha presença.

Escolhi meu nome por sua causa. Desde bem pequena, quando a ouvi ensaiar pela primeira vez , eu me identifiquei apaixonadamente por aquela musica. À medida que ia crescendo, ia aos poucos tomando conhecimento da realidade que me cercava. Ela é uma cantora lírica e é negra como eu, e seu nome pouco importa, pois eu a chamo de Carmem, também como eu.

Todos os dias ela ensaia horas e horas a fio. E eu fico aqui, deitada no parapeito de sua janela absorvendo prazerosamente o seu cantar. A minha canção preferida é Habanera, da ópera Carmem de Bizet. Esta Carmem, a da ópera era uma cigana sedutora e sensual.

Quando começam os acordes... pan param param pan pan.... eu fecho meus olhos e sonho. Sonho com terras distantes, com sol quente como o sangue que corre em minhas veias. Sonho que sou uma gata cigana de pelos negros e olhos amendoados cor de ouro. Charmosa e sedutora. Consciente do poder de minha feminilidade.

“L´amour”... ela canta... e eu me espreguiço... estico minhas pernas dianteiras para bem longe de meu corpo, movo minhas patas como se estivesse arranhando, abro a boca num bocejo preguiçoso...

“L´amour est un oiseau rebelle”...
Epa!
Alguma coisa acontece comigo sempre que ela canta que o amor é um pássaro rebelde.
Eu sinto uma súbita e incontrolável vontade de correr atrás dos passarinhos e sei, então, que está na hora do almoço.

06/07/2000

História sem pé nem cabeça do Barão do Rosário

Mesmo às vésperas da virada do milênio, Curitiba continua com sua alma provinciana. Os habitantes da cidade estão em polvorosa. O assunto repete-se na Boca Maldita, no bar do Passeio, no Parque Barigui. Fotos publicadas na Caras Paraná e notas diárias na coluna de Dino Almeida dão conta do andamento do projeto aos leitores ávidos pela novidades.
Madames, falsas loiras de topetes, procuram formas alternativas de chamarem a atenção, e quem sabe, poderem ter seu minuto de fama.

Quem tirou o sossego de tão pacata cidade foi ninguém menos que o famoso diretor cinematográfico norte americano Steve Spielberg.
O cineasta e sua equipe encontram-se em Curitiba fazendo as filmagens para o seu mais recente projeto. Campeão imbatível de bilheterias, Spielberg desta feita pretende nos contar a fantasiosa vida de um personagem que muito contribuiu para a nossa história:

O Barão do Rosário.

Nos idos de antanho, nas terras geladas do Norte da Europa vivia um rapaz escandinavo, Barão Ignacithor de Paulamundsen, filho de fidalgos da corte do Rei Olav II. Desde muito jovem ele tinha a responsabilidade de tomar conta da olaria da família que há muitas gerações produzia o melhor óleo de alce do reino. Aprimorando também de forma prática, através do trabalho, a educação tradicional que recebia de seus tutores.

O frio inclemente assolava o fiorde onde moravam e como qualquer adolescente sedento por aventuras Ignacithor sonhava com terras distantes das quais ouvira falar. Lendas contavam de uma terra graciosa, chamada Sambódromo, de povo gentil e alegre, denominados mulatas que se vestiam de plumas e cantavam e dançavam sob o sol tropical que nunca se punha.
Era chegada a temporada de caça ao bacalhau e sair ao mar nessa época é questão de necessidade e sobrevivência. Ignacithor exímio velejador viking, não hesitou em lançar as águas geladas do Mar Oceano a sua embarcação.

- Sorvete de bacalhau com calda de caramelo, bacalhau no óleo de alce, guisado de foca e bacalhau... - e sua boca encheu-se de água a lembrança da mesa farta com seus petiscos favoritos.
Vislumbrou então um cardume, iguarias em potencial e saiu em sua perseguição. Desviava cuidadosamente dos poços de petróleo e das perigosíssimas serpentes marinhas e não percebeu que pouco a pouco se distanciava de tudo e de todos.
Com bravura, seguiu além de todos os limites conhecidos, navegando em águas tempestuosas, quando uma violenta calmaria empurra sua nau até as costas de uma nova terra, vindo finalmente a encalhar no chafariz do Largo da Ordem.
O Barão em pânico prepara-se para uma luta de vida ou morte. Ergue sua lança para o cavalo ameaçador, imaginando ser ele o abominável monstro marinho, que segundo crenças da época habitava as profundezas do mar aberto.
No que foi de pronto impedido pela gente local, o Vampiro e a Polaquinha, que caminhavam pela praia.

Animo serenado, batimentos cardíacos normalizados, ao dar-se conta da aventura que protagonizara Ignacithor percebe que tem diante de si o mistério de uma nova vida. E sendo um jovem de mente aberta, decide nesse local se estabelecer para poder explorar essa cultura desconhecida e diferente.
Manda então um e-mail para seu rei, relatando com riqueza e profusão de detalhes sua chegada naquela terra de todas as gentes; onde a gralha azul plantando, pinheiros nascem.
Finalizando escreve:
“E nesta maneira Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. Peço que me perdoe por não poder lhe levar o bacalhau para a sexta-feira Santa.
Beijo as mãos de Vossa Alteza, graças a Deus pela ultima vez, pois nunca mais sentirei o cheiro de jaula que delas emanam.
“Deste chafariz seguro, desta praça do relógio das flores, hoje dia de feira, 29 de março de 1500.”

Decidido a estabelecer-se no local, caminhou alguns passos e escolheu um terreno que considerou adequado para erguer sua moradia. Com suas próprias mãos, pás, picaretas, tijolos e cimento construiu a sua casa, de arquitetura eclética, mistura de vários estilos.
Denominou-o Solar do Barão do Rosário. Assim como no linguajar da época, olaria é uma fábrica de óleo, Solar como o próprio nome já diz referia-se a uma imensa área descoberta da casa onde o Barão tomava seus banhos de sol. Rosário como homenagem à mãe distante que com tanto carinho dedicara-se ao cultivo de rosas.

Spielberg ao tomar conhecimento dessa surreal história através de Antony Quinn, quando este por aqui esteve, ficou tão entusiasmado que partiu imediatamente para Curitiba para filmar a vida do Barão do Rosário, aproveitando as comemorações dos quinhentos anos da descoberta do Largo da Ordem.
A equipe agora se encontra na parte histórica da cidade. As ruas da proximidade foram fechadas, impedindo o transito dos carros. Muitos curiosos querendo ver os artistas de “Róliude”. Ou quem sabe poderem aparecer no filme, naquele arroubo de criatividade dar um tchauzinho para a câmera. Inclusive transeuntes só podem permanecer no local munidos de uma autorização oficial. De nada adianta dizer:
- Sabe com quem está falando? - que eles não sabem.
Uma parafernália de equipamentos, coisas nunca vistas nas terras dos pinheirais, parecendo coisas de outro planeta. Só falta mesmo o ET em pessoa estar por ali, manipulando aquelas engenhocas de outro mundo.

- Façam uma tomada geral - grita o diretor.
- Mostrem o casario.
- Agora a fonte. Depois um close no cavalo.
Ordens dadas, ordens obedecidas, as seqüências vão sendo feitas uma a uma. Aos poucos vão se aproximando do casarão secular perfeitamente preservado pela iniciativa privada, of course. A construção é imponente e de suas estruturas emana toda a energia de uma história passada. Se estivermos atentos podemos ouvir o burburinho de vozes da antiguidade que se perpetuam no presente.

O Barão montou também uma escola no seu solar, onde ensinava aos jovens aventureiros a arte da navegação. Deste local saíram inúmeros desbravadores. Gente que reformulou os contornos do mundo em que tinham vivido até então, rompendo as barreiras da geografia e da própria mente. Contornaram o Caldeirão, trouxeram muambas do Paraguai, as fronteiras da cidade prolongaram-se para além do Portão, que vivia fechado.

A equipe, sincronizada sabe perfeitamente o que fazer. Aproxima-se do acesso principal, adentrando-o.
Do lado esquerdo da pequena alameda o imponente casarão, que atualmente abriga um espaço particular, vivo e atuante de arte e cultura. Do lado direito as salas de aulas que atendem a necessidade de abrigar as pessoas que ali participam de cursos.
Entram, então, em uma delas.
- Corta! – diz o diretor.
E continua:
- Quero agora que mostrem como a sala é ampla e de pé direito alto.
A seguir, dividam-na mentalmente me quatro partes: esquerda, direita, em cima e em baixo.
E nesta seqüência recomecem as filmagens.
- Tomada dois. A sala de aula. Cena Um.
- Filmando!

Todo seu lado esquerdo é ocupado por janelas que vão do chão quase até o teto divididas de três em três, por onde o Barão poderia observar o quotidiano de seu Solar mesmo ministrando seus cursos.
Ele sabia, por exemplo, que o carroção do Túlio estava chegando de Santa Felicidade com o vinho da Colônia. Primeiro ouvia o ranger do carro e aos poucos o poc poc dos cascos dos cavalos no calçamento.
Através das janelas sentia o cheiro agradável das cucas e dos pães sendo assados, e sabia que já era quase hora do almoço quando ouvia o ruído dos pieroguis frigindo.
Era através delas que diariamente ouvia Seu Manuel discutir com Stanislau:
- Português burro! – dizia um.
- Polaco ladrão! – retrucava o outro.
E à tardinha quando o sol se punha, todos juntos esquecidas suas mazelas, reuniam-se no bar do Alemão, logo ali em baixo, para beber chope.
Tudo isso, sons, cheiros, todos os sentidos estavam impressos naquelas paredes para sempre.

O câmera agora filma um quadro pendurado em uma das paredes. Uma pintura irreal, como essa historia, em vários tons de azul com algumas pitadas de ocre.
Cada um dos participantes da filmagem descreveu-o de uma maneira diferente, não parecendo falarem da mesma obra. Um dizia:
- Que belo um cérebro!
Outro:
- Que cérebro? Não enxerga aí um livro rasgado?
Um terceiro jurava que a pintura representava a coluna vertebral.
Mas todos foram unânimes em afirmar ter na tela um peixe e uma flor.
Seria o peixe o bacalhau que o Barão perseguia, e a flor uma rosa cultivada pela sua amada mãe?
Quem há de entender a arte moderna, onde as coisas parecem, mas não são.

- Corta!
- Chegamos ao ápice de nossas filmagens. Sigam o roteiro.
- Luzes! Câmeras! Ação!
Faz-se um profundo silencio. Nada, nem ninguém se movem. O único ruído que se ouve é o da filmadora. Pode ser percebido no ar um sentimento misto de respeito e admiração, por estarem diante de uma relíquia histórica de tal envergadura.

O câmera aproxima-se cautelosamente do objeto. Displicentemente largada, quase como que esquecida em um dos cantos da sala encontra-se o famoso barco do Barão. Relativamente pequeno, pois tem como a largura de uma porta. Mas para a vida desta terra das araucárias, sua grandeza é imensurável.
Não foi, pois, nesta embarcação que um jovem escandinavo cruzou o desconhecido mar Oceano, enfrentando toda a sorte de riscos, para finalmente aportar em segurança no chafariz do Largo da Ordem?
- Close na embarcação!
- Corta!

16/06/2000

Socorro Língua Portuguesa

Estava lendo um livro de crônicas, quando me deparei com o seguinte texto, que tomo a liberdade de resumir:

“Um rapaz perde sua jovem esposa. Num baú encontra um xale que ela havia comprado anos atrás e nunca usara, aguardando uma ocasião especial. Ele entrega o xale à cunhada que está encarregada de vestir a irmã para o funeral”

Certamente Tico & Teco não estavam de acordo no momento em que li o texto. Pois quando li a frase: “um rapaz perde sua jovem esposa”, a primeira coisa que pensei foi numa moça vagando numa floresta... perdida.

Então, ele “entrega o xale para a cunhada vestir “... A palavra funeral passou meio de despercebida. O texto estava sem nexo. Confuso.

Tinha uma moça perdida na selva. A sua irmã estava usando seu xale, que lhe fora dado pelo cunhado. Teriam eles um caso?
Resolvi reler. Mais uma vez. E outra.
Que horror! Que mente pervertida. Estava fazendo mau juízo de toda a família. Tudo por conta de uma palavra mal empregada.


Por que não foi dito logo de cara que a moça morreu? Ou faleceu? Ou desencarnou como preferem os Espíritas?

Eu perco chaves... aliás, com relação as ditas cujas, não as perco, simplesmente não sei onde as ponho.
Perco algumas gramas e ganho alguns quilos logo em seguida.
Perco coisas dentro das minhas bolsas e tenho que vira-las de cabeça para baixo para descobrir quais os mistérios que elas escondem.


Gente quando se perde, coloca-se anuncio no rádio, televisão, jornal, dentro dos ônibus, tem aquelas mensagens da Internet (essas não sei se são reais, mas não vem ao caso agora), dizendo que a pessoa de nome tal, conhecida pelo apelido de, que na ocasião vestia-se de azul, ou verde, ou qualquer cor, e calçava tênis, ou havaianas, ou o que quer que seja, desapareceu nas imediações de tal lugar. Que se gratifica quem fornecer informações a respeito.
Animais de estimação perdem-se deixando crianças e adultos doentes...


Eu não sou a pessoa mais indicada para fazer correções na nossa língua pátria. Como os finais das palavras, os “esses” do plural, e o que seria de mim sem as correções automáticas do Word. Não sou nenhum Rui Barbosa.
Mas existem certas coisas que ferem meus ouvidos.

Esse tal de perder ao referir-se a uma pessoa que morreu é uma delas.
Quer saber outra?

“Eu acho que...”
Acha o que, cara pálida?
Ouro?
Petróleo?
Um buraco para enterrar a cabeça?

Quem acha, acha alguma coisa.
Achar é sinônimo de encontrar, e não de pensar.
Portanto, da próxima vez que for emitir a sua opinião, não ache o que não perdeu. Diga:
“eu penso, eu sinto, em minha opinião...”
Ou melhor, se não souber o que dizer, não diga nada. Fique de boca fechada, pois assim não corre o risco de dizer besteira.

E preste atenção ao pedir qualquer coisa que seja. Se começar a frase dizendo: “Eu queria...” seu interlocutor pode com todo o direito lhe dar as costas e nada mais, pois se querias, no momento presente, não quer mais.
Presente do verbo querer é: “eu quero!” e ponto final.


05/01/07

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Gordo só de fode...desde guri.

Na década de setenta os hippies começaram a chegar em Garopaba. Foram seguidos pelas tribos de surfistas. Chegaram também os veranistas.

Para quem é fã de geografia, Garopaba está localizada na Costa Franca, um dos melhores destinos turísticos do Brasil, cerca de setenta quilômetros de Florianópolis.
Boas ondas atraem seus apaixonados e o local é famoso por muito surf, sendo inclusive sede se campeonatos mundiais.

Outdoors espalham-se pela cidade:
“Surf aprende-se na escola”
Portanto à beira mar existem escolinhas de surf para veranistas que não querem fazer feio. Ou que pelo menos tem a intenção de voltar para casa contando vantagem, mesmo que seja uma meia verdade:
“Cara precisava ver a onda que peguei em Garopaba!”
A tal "onda" estava no tornozelo e ele tomou um “pacote”, mas deixa prá lá...

Lagarteava à beira mar. Hoje em dia não se toma mais sol. Ele é do mal! Evidentemente estava protegida por camadas e mais camadas de protetor solar 120 (alguém se lembra de óleo de urucum com coca cola? Até exercício fazei, pois tinha que correr das abelhas), mais chapéu, óculos de sol, (só faltava a roupa de amianto como a dos astronautas) embaixo do guarda sol e depois da dezesseis horas. Comme il fault!

Chegaram então quatro instrutores e seus respectivos pupilos.
Oba! Eu iria assistir de camarote uma aula de surf.

Eram três crianças maiores com cerca de dez, onze anos, dois meninos e uma menina. E uma menina menor de mais ou menos cinco anos.
Todos vestiam sleeves, que para quem não conhece o vocabulário, é aquela roupa esquisita de surfista.

A menina pequena, e o casal de crianças eram magros. Bem magrinhos eu diria.
Já o outro menino...
Bem... sem querer ser maldosa, ou politicamente incorreta, ele era...gorducho. Ele me lembrava o Jake, do seriado Two and Half Men. Gordo caricato.

Vestido então naquele sleeve estava ridículo!
A roupa é justa.
Muito justa.
Nele estava justa, sim.
Mas em gomos. Como uma abóbora na horizontal
Aqueles pneus que a gente abomina?Bem esses.
Várias camadas deles.

Os instrutores desenharam então uma prancha na areia, e demonstraram a forma de deitar sobre ela, o movimento a ser feito com os braços, e como colocar-se em pé.
- Entendido?
Os magrinhos, incluindo a menina pequena logo pegaram o jeito de surfar na areia.

O gordo...
Eu pensei:
“Isso não vai dar certo!”

Enquanto os três já colocavam seus lashes (até então eu só conhecia eye lashes- lashe é aquilo que é colocado no tornozelo do surfista, que impede que a prancha vá parar na África), o gordo ainda estava remando deitado na areia.

Tive um segundo de distração. Não sei se foi o carrinho de sorvetes, o milho verde ou a água de coco. Mas no minuto seguinte lá vinham os magrinhos em pé sobre suas pranchas até a beira da praia. Faziam até pose como aquele ex-namorado surfista da Gisele Bündchen. Como era mesmo o nome dele? Slater?

O gordo?
Depois de muito esforço, conseguira finalmente levanta-se do chão e entrava na água, saltitante, atrás do seu instrutor, que carregava a sua prancha.

Cada vez que eu olhava para a menina pequena, ela e seu instrutor estavam comemorando mais um sucesso, batendo as mãos direita, como fazem os jogadores de basquete ao fazerem pontos. Eu estava admirada com sua facilidade.

Em compensação vi o instrutor do gordo dando socos no mar, possivelmente pedindo para que este se abrisse e que Posseidon o levasse consigo para suas profundezas.
Ou quem sabe um tsunami soprasse-o para bem longe do gordo desajeitado.
“Por que eu?” deveria estar pensando.

O gordo caiu. Levantou. Com certeza engoliu galões da água salgada.
Já não mais saltitava atrás do infeliz instrutor. Arrastava-se.
Mas nem tudo estava perdido.

No último minuto... na última onda...ele permaneceu deitado na prancha, e consegui!
“pegar um jacaré!”
Deitado, belo e faceiro, lá veio ele deslizando até a areia.
Motivo para grandes celebrações.

Um hambúrguer duplo, dois Milk shakes quem sabe?
“Hei! Não se esqueça das fritas!”

04/01/07

Cadê meu primeiro apê?

Cadê o meu primeiro apê?
Tá no site, tá na mão, tá na MRV.


Eu tinha um sonho,
Não queria que fosse medonho,
Comprar meu primeiro apê.
Foi quando ouvi falar da MRV.
As construções fui visitar,
E cheguei ame encantar.
Falar com um advogado era o melhor a fazer
Pois sempre é bom cautelosa ser
Por ele fui orientada
Para não entrar numa roubada
“No PROCON vá se informar
Antes de qualquer negócio fechar”
Fui então procurar
MRV na Internet pesquisar
Quanta barbaridade!
Não podia ser verdade!
Muito me assustei
E daquela música lembrei
“Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Não se podia fazer pipi,
Pois penico não tinha ali”
Mas na MRV não eram feitas com esmero
E por fazerem os clientes de bobos, nota zero!
Cadê o meu primeiro apê?
Tá no site, tá na mão, tá na MRV.
Lamento então dizer:
Meu dinheiro vocês não vão ver!
Custa muito para ganhar,
Com vocês não vou desperdiçar.
Vou procurar uma construtora decente,
Que me trate feito gente,
Que construa com carinho,
O meu precioso cantinho.
Que no fim do dia eu possa chegar
No meu lar doce lar.

Mais de cem razões por que um Gato é melhor que um Homem.

cccUm gato jamais levantará e deixará levantada a tampa do vaso sanitário.

Um gato jamais mijará fora do vaso.

Um gato jamais deixará pentelhos na borda do vaso.

Um gato nunca irá preferir uma cerveja gelada em detrimento à sua companhia.

Um gato nunca vai aparecer usando uma Zorba horrível.

Um gato nunca irá sair correndo depois de uma noite de amor.

Um gato não coça o saco.

Um gato não fica ajeitando o pinto dentro das calças.

Um gato não quer comer nossa amiga boazuda.

Um gato não arrota na mesa.



E nem palita os dentes no restaurante.

Gatos não reclamam quando você sugere jantar em restaurante japonês.

Um gato jamais criticará a sua maneira de dirigir.

E nem fica dando palpites “Vire aqui...Vá devagar... Cuidado!”

Gatos jamais comentarão como sua roupa é justa.

Um gato não olhará par você com um ar incrédulo dizendo: “O que é isso que você está usando?”

Um gato nunca rirá da sua roupa ridícula.

Também não criticará o seu decote ou sua saia curta.

E sempre achará você maravilhosa, não importa o que você esteja usando.

Um gato nunca reclamará quando você ganhar uns quilos extras... pois você será muito maior para amá-lo.



Um gato nunca estará muito ocupado para estar com você.

Ele tem todo o tempo do mundo para te ouvir, enquanto você coça a sua barriga.

Um gato jamais comparará a sua maneira de cozinhar com a da mãe dele ou da ex-mulher.

Aliás, com um gato você jamais terá uma sogra.

Um gato nunca mencionará nada sobre o seu “relógio biológico”, ou sua TPM ou ainda sua menopausa em reuniões de amigos.

Um gato jamais perguntará quais os ingredientes você usou para cozinhar o jantar dele.

Um gato nunca gastará toda sua água quente antes de você tomar o seu banho.

E também não pedirá seu carro emprestado enquanto o dele está na oficina.
Um gato não devolverá o seu carro sem gasolina.

Um gato jamais dirá: “Eu não te avisei?”




Um gato nunca reclamará da sua conta do celular, ou Internet, ou qualquer outra conta.

Um gato jamais dirá para você ler um artigo sobre “Os benefícios da caminhada para a Osteoporose”

Um gato nunca estará atrasado para o jantar.

Um gato pedirá informações quando vocês estiverem perdidos.

Um gato nunca reclamará do seu perfume ou maquiagem.

Um gato nunca faltará a um encontro com você para ir jogar bola.

Gatos são muito divertidos na cama.

Gatos te põem num pedestal.

Um gato jamais aparecerá de cabeça raspada usando um brinco.

Quando você está triste, gatos te fazem companhia.



Gatos sempre têm cabelos suficientes para você acariciar.

Gatos não têm pés frios.

Gatos não puxam toda a coberta para eles mesmos.

Gatos não vão te trocar por duas de vinte.

Gatos não são influenciados pela mídia.

Um gato confia em você.

Gatos têm tempo para as refeições.

Um gato sempre te achará interessante, não importa o quanto tempo vocês estejam juntos.

Um gato jamais reclamará quando você convida-lo para ir ao balé.

Gatos nunca reclamarão quando você comprar um móvel novo.



Gatos não se importam de ajudar no trabalho de casa.

Um gato jamais sugerirá uma separação amigável.

Um gato não precisa sair para comprar cigarros.

Gatos não se importam com a Copa do Mundo, ou Ironman ou Olimpíadas.

Os gatos geralmente entendem quando você explica por que está atrasada.

Gatos não estão interessados em impressionar ninguém mais além de você.

Para um gato não é fato relevante quanta celulite você tenha.

Um gato não se importa quanta bagagem você carregue nas férias.

Um gato não se importa se você depilou ou não a virilha.

Um gato não usará jeans com sapatos sociais, ou meias com docksiders.



Também não usará camisa de seda desabotoada com correntes de ouro.

Gatos não estão nem aí se você pedir dinheiro para ir ao shopping.

E muito menos com o tempo que você gastou no shopping.

Também não se sentirão diminuídos se você ganhar mais que eles.

Um gato não irá perder seu sono se você comprar um creme hidratante para o rosto de $300 feito de fóssil de múmia...

Um gato será muito mais feliz assistindo ao Discovery Canal que o da Playboy.

Um gato jamais tirará sua coleira, que é como uma aliança.

Você nunca receberá um telefonema da ex- mulher do seu gato pedindo aumento de pensão.

Um gato jamais sugerirá que você está comendo muito doce.

Um gato não dirá que o quanto você está parecida com aquela prima imensa que você detesta.



Um gato não se importa coma cotação do dólar.

Um gato não de preocupa com a alta da Bolsa ou a queda do Ministro

Aliás, gatos não dão a mínima para política.

Os gatos entendem a necessidade feminina em ser criativas.

Gatos não dão a mínima se você misturar todos os cadernos do jornal.

Também não se importam se as notas da carteira de dinheiro estiverem misturadas.

Um gato não irá reclamar se você for para a cama usando camisola de flanela e máscara de abacates no rosto.

Um gato jamais te beijará e contará para quem quer que seja.

Um gato jamais se cansará das fofocas que você lhe contar.

Gatos amam olhos nos olhos.



Um gato te seguirá por todos os lugares.

Enquanto você estiver no computador ele estará ao seu lado.

Um gato sabe o quanto chocolate é vital para uma mulher bem resolvida.

Gatos jamais usam bonés virados ao contrário.

Também não mentem a idade e nem usam roupas para parecerem mais jovens.

Com gatos você não precisa fingir, pois eles te encorajam para você ser você mesma.

(Não ficam sem graça quando chamados por nominhos).

Um gato não se importa quantos filhos você tenha, desde que ele continue sendo o seu “Baby”.

Gatos sabem o quão importante é você cobrir-se de mimos.

Gatos adoram ouvir sobre liquidações.



Um gato nunca levantará sua sobrancelha quando você repetir a sobremesa.

Um gato jamais interromperá o que você estiver fazendo... a não ser que ele perca seu rato de brinquedo, ou esteja com fome, ou...

Um gato nunca te dará um presente de aniversário ridículo e totalmente fora de propósito.

Para um gato todos os dias com você são dia dos namorados.

Gatos te manterão aquecida.

Você jamais terá que convidar a mãe dele para vir a sua casa.

Gatos jamais, em tempo algum terão cheiro de cigarro, ou alho ou cerveja.

Um gato nunca fará algum comentário sobre a cor da raiz dos seus cabelos estarem crescidas.

Também achará que o branco de seus cabelos é muito chique.

A única pessoa com que seu gato fala enquanto dorme é com você.



Gatos jamais demonstram impaciência quando você quer discutir o relacionamento com eles.

Gatos não passam horas, que poderiam estar com você, em frente a um espelho levantado peso para ficar mais musculoso.

Também não ficam comparando os seus músculos com de outros gatos.

Um gato não se importa o quanto tempo você leva para chegar ao xis da questão.

Gatos não estão preocupados em esconder o seu lado feminino.

Quando um gato está mau humorado ele fica na dele.

Gatos são diretos: quando querem uma coisa não ficam rodeando o assunto.

Gatos são caseiros, adoram curtir o seu lar.

Um gato não irá te levar fazer uma viagem que você não queira ir.

Gatos são muito limpos e cheirosos.



Gatos não têm problemas de relacionamento.

Acredite, um gato não mente, não trai e não fica enrolando.

Gatos não pedem dinheiro emprestado para devolver na segunda-feira que nunca chegará.

Não estão nem aí se você arrumou a cama.

Gatos são parceiros perfeitos para o dia do pijama.

São educados e discretos.

E tem bom gosto e sofisticação naturais.

Gatos não fazem serão e trazem trabalho para ser feito em casa.

Você não terá jamais que agüentar algum amigo desagradável de um gato.

Melhor, você não terá que conviver com nenhuma esposa insuportável do chefe do seu gato.



Um gato sentirá saudade quando você estiver longe.
Para um gato você e ninguém mais é a pessoa mais importante de sua vida.
Um gato te amará para sempre.



Olhe bem para tua vida:
O maridão se entupiu de costela e cerveja está jogado no sofá usando aquela bermuda do tempo que ele fazia “educação física”.
Na TV um jogo importantíssimo e imperdível que está sendo realizado na FUNAI de Purus, logo ali, na esquina do fim do mundo, entre o time Grêmio dos Pataxós Unidos X Atléticos Caraíbas.

Você quer continuar nessa?
Está esperando o que?

10/02/2000