quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Gordo só de fode...desde guri.

Na década de setenta os hippies começaram a chegar em Garopaba. Foram seguidos pelas tribos de surfistas. Chegaram também os veranistas.

Para quem é fã de geografia, Garopaba está localizada na Costa Franca, um dos melhores destinos turísticos do Brasil, cerca de setenta quilômetros de Florianópolis.
Boas ondas atraem seus apaixonados e o local é famoso por muito surf, sendo inclusive sede se campeonatos mundiais.

Outdoors espalham-se pela cidade:
“Surf aprende-se na escola”
Portanto à beira mar existem escolinhas de surf para veranistas que não querem fazer feio. Ou que pelo menos tem a intenção de voltar para casa contando vantagem, mesmo que seja uma meia verdade:
“Cara precisava ver a onda que peguei em Garopaba!”
A tal "onda" estava no tornozelo e ele tomou um “pacote”, mas deixa prá lá...

Lagarteava à beira mar. Hoje em dia não se toma mais sol. Ele é do mal! Evidentemente estava protegida por camadas e mais camadas de protetor solar 120 (alguém se lembra de óleo de urucum com coca cola? Até exercício fazei, pois tinha que correr das abelhas), mais chapéu, óculos de sol, (só faltava a roupa de amianto como a dos astronautas) embaixo do guarda sol e depois da dezesseis horas. Comme il fault!

Chegaram então quatro instrutores e seus respectivos pupilos.
Oba! Eu iria assistir de camarote uma aula de surf.

Eram três crianças maiores com cerca de dez, onze anos, dois meninos e uma menina. E uma menina menor de mais ou menos cinco anos.
Todos vestiam sleeves, que para quem não conhece o vocabulário, é aquela roupa esquisita de surfista.

A menina pequena, e o casal de crianças eram magros. Bem magrinhos eu diria.
Já o outro menino...
Bem... sem querer ser maldosa, ou politicamente incorreta, ele era...gorducho. Ele me lembrava o Jake, do seriado Two and Half Men. Gordo caricato.

Vestido então naquele sleeve estava ridículo!
A roupa é justa.
Muito justa.
Nele estava justa, sim.
Mas em gomos. Como uma abóbora na horizontal
Aqueles pneus que a gente abomina?Bem esses.
Várias camadas deles.

Os instrutores desenharam então uma prancha na areia, e demonstraram a forma de deitar sobre ela, o movimento a ser feito com os braços, e como colocar-se em pé.
- Entendido?
Os magrinhos, incluindo a menina pequena logo pegaram o jeito de surfar na areia.

O gordo...
Eu pensei:
“Isso não vai dar certo!”

Enquanto os três já colocavam seus lashes (até então eu só conhecia eye lashes- lashe é aquilo que é colocado no tornozelo do surfista, que impede que a prancha vá parar na África), o gordo ainda estava remando deitado na areia.

Tive um segundo de distração. Não sei se foi o carrinho de sorvetes, o milho verde ou a água de coco. Mas no minuto seguinte lá vinham os magrinhos em pé sobre suas pranchas até a beira da praia. Faziam até pose como aquele ex-namorado surfista da Gisele Bündchen. Como era mesmo o nome dele? Slater?

O gordo?
Depois de muito esforço, conseguira finalmente levanta-se do chão e entrava na água, saltitante, atrás do seu instrutor, que carregava a sua prancha.

Cada vez que eu olhava para a menina pequena, ela e seu instrutor estavam comemorando mais um sucesso, batendo as mãos direita, como fazem os jogadores de basquete ao fazerem pontos. Eu estava admirada com sua facilidade.

Em compensação vi o instrutor do gordo dando socos no mar, possivelmente pedindo para que este se abrisse e que Posseidon o levasse consigo para suas profundezas.
Ou quem sabe um tsunami soprasse-o para bem longe do gordo desajeitado.
“Por que eu?” deveria estar pensando.

O gordo caiu. Levantou. Com certeza engoliu galões da água salgada.
Já não mais saltitava atrás do infeliz instrutor. Arrastava-se.
Mas nem tudo estava perdido.

No último minuto... na última onda...ele permaneceu deitado na prancha, e consegui!
“pegar um jacaré!”
Deitado, belo e faceiro, lá veio ele deslizando até a areia.
Motivo para grandes celebrações.

Um hambúrguer duplo, dois Milk shakes quem sabe?
“Hei! Não se esqueça das fritas!”

04/01/07

Cadê meu primeiro apê?

Cadê o meu primeiro apê?
Tá no site, tá na mão, tá na MRV.


Eu tinha um sonho,
Não queria que fosse medonho,
Comprar meu primeiro apê.
Foi quando ouvi falar da MRV.
As construções fui visitar,
E cheguei ame encantar.
Falar com um advogado era o melhor a fazer
Pois sempre é bom cautelosa ser
Por ele fui orientada
Para não entrar numa roubada
“No PROCON vá se informar
Antes de qualquer negócio fechar”
Fui então procurar
MRV na Internet pesquisar
Quanta barbaridade!
Não podia ser verdade!
Muito me assustei
E daquela música lembrei
“Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Não se podia fazer pipi,
Pois penico não tinha ali”
Mas na MRV não eram feitas com esmero
E por fazerem os clientes de bobos, nota zero!
Cadê o meu primeiro apê?
Tá no site, tá na mão, tá na MRV.
Lamento então dizer:
Meu dinheiro vocês não vão ver!
Custa muito para ganhar,
Com vocês não vou desperdiçar.
Vou procurar uma construtora decente,
Que me trate feito gente,
Que construa com carinho,
O meu precioso cantinho.
Que no fim do dia eu possa chegar
No meu lar doce lar.

Mais de cem razões por que um Gato é melhor que um Homem.

cccUm gato jamais levantará e deixará levantada a tampa do vaso sanitário.

Um gato jamais mijará fora do vaso.

Um gato jamais deixará pentelhos na borda do vaso.

Um gato nunca irá preferir uma cerveja gelada em detrimento à sua companhia.

Um gato nunca vai aparecer usando uma Zorba horrível.

Um gato nunca irá sair correndo depois de uma noite de amor.

Um gato não coça o saco.

Um gato não fica ajeitando o pinto dentro das calças.

Um gato não quer comer nossa amiga boazuda.

Um gato não arrota na mesa.



E nem palita os dentes no restaurante.

Gatos não reclamam quando você sugere jantar em restaurante japonês.

Um gato jamais criticará a sua maneira de dirigir.

E nem fica dando palpites “Vire aqui...Vá devagar... Cuidado!”

Gatos jamais comentarão como sua roupa é justa.

Um gato não olhará par você com um ar incrédulo dizendo: “O que é isso que você está usando?”

Um gato nunca rirá da sua roupa ridícula.

Também não criticará o seu decote ou sua saia curta.

E sempre achará você maravilhosa, não importa o que você esteja usando.

Um gato nunca reclamará quando você ganhar uns quilos extras... pois você será muito maior para amá-lo.



Um gato nunca estará muito ocupado para estar com você.

Ele tem todo o tempo do mundo para te ouvir, enquanto você coça a sua barriga.

Um gato jamais comparará a sua maneira de cozinhar com a da mãe dele ou da ex-mulher.

Aliás, com um gato você jamais terá uma sogra.

Um gato nunca mencionará nada sobre o seu “relógio biológico”, ou sua TPM ou ainda sua menopausa em reuniões de amigos.

Um gato jamais perguntará quais os ingredientes você usou para cozinhar o jantar dele.

Um gato nunca gastará toda sua água quente antes de você tomar o seu banho.

E também não pedirá seu carro emprestado enquanto o dele está na oficina.
Um gato não devolverá o seu carro sem gasolina.

Um gato jamais dirá: “Eu não te avisei?”




Um gato nunca reclamará da sua conta do celular, ou Internet, ou qualquer outra conta.

Um gato jamais dirá para você ler um artigo sobre “Os benefícios da caminhada para a Osteoporose”

Um gato nunca estará atrasado para o jantar.

Um gato pedirá informações quando vocês estiverem perdidos.

Um gato nunca reclamará do seu perfume ou maquiagem.

Um gato nunca faltará a um encontro com você para ir jogar bola.

Gatos são muito divertidos na cama.

Gatos te põem num pedestal.

Um gato jamais aparecerá de cabeça raspada usando um brinco.

Quando você está triste, gatos te fazem companhia.



Gatos sempre têm cabelos suficientes para você acariciar.

Gatos não têm pés frios.

Gatos não puxam toda a coberta para eles mesmos.

Gatos não vão te trocar por duas de vinte.

Gatos não são influenciados pela mídia.

Um gato confia em você.

Gatos têm tempo para as refeições.

Um gato sempre te achará interessante, não importa o quanto tempo vocês estejam juntos.

Um gato jamais reclamará quando você convida-lo para ir ao balé.

Gatos nunca reclamarão quando você comprar um móvel novo.



Gatos não se importam de ajudar no trabalho de casa.

Um gato jamais sugerirá uma separação amigável.

Um gato não precisa sair para comprar cigarros.

Gatos não se importam com a Copa do Mundo, ou Ironman ou Olimpíadas.

Os gatos geralmente entendem quando você explica por que está atrasada.

Gatos não estão interessados em impressionar ninguém mais além de você.

Para um gato não é fato relevante quanta celulite você tenha.

Um gato não se importa quanta bagagem você carregue nas férias.

Um gato não se importa se você depilou ou não a virilha.

Um gato não usará jeans com sapatos sociais, ou meias com docksiders.



Também não usará camisa de seda desabotoada com correntes de ouro.

Gatos não estão nem aí se você pedir dinheiro para ir ao shopping.

E muito menos com o tempo que você gastou no shopping.

Também não se sentirão diminuídos se você ganhar mais que eles.

Um gato não irá perder seu sono se você comprar um creme hidratante para o rosto de $300 feito de fóssil de múmia...

Um gato será muito mais feliz assistindo ao Discovery Canal que o da Playboy.

Um gato jamais tirará sua coleira, que é como uma aliança.

Você nunca receberá um telefonema da ex- mulher do seu gato pedindo aumento de pensão.

Um gato jamais sugerirá que você está comendo muito doce.

Um gato não dirá que o quanto você está parecida com aquela prima imensa que você detesta.



Um gato não se importa coma cotação do dólar.

Um gato não de preocupa com a alta da Bolsa ou a queda do Ministro

Aliás, gatos não dão a mínima para política.

Os gatos entendem a necessidade feminina em ser criativas.

Gatos não dão a mínima se você misturar todos os cadernos do jornal.

Também não se importam se as notas da carteira de dinheiro estiverem misturadas.

Um gato não irá reclamar se você for para a cama usando camisola de flanela e máscara de abacates no rosto.

Um gato jamais te beijará e contará para quem quer que seja.

Um gato jamais se cansará das fofocas que você lhe contar.

Gatos amam olhos nos olhos.



Um gato te seguirá por todos os lugares.

Enquanto você estiver no computador ele estará ao seu lado.

Um gato sabe o quanto chocolate é vital para uma mulher bem resolvida.

Gatos jamais usam bonés virados ao contrário.

Também não mentem a idade e nem usam roupas para parecerem mais jovens.

Com gatos você não precisa fingir, pois eles te encorajam para você ser você mesma.

(Não ficam sem graça quando chamados por nominhos).

Um gato não se importa quantos filhos você tenha, desde que ele continue sendo o seu “Baby”.

Gatos sabem o quão importante é você cobrir-se de mimos.

Gatos adoram ouvir sobre liquidações.



Um gato nunca levantará sua sobrancelha quando você repetir a sobremesa.

Um gato jamais interromperá o que você estiver fazendo... a não ser que ele perca seu rato de brinquedo, ou esteja com fome, ou...

Um gato nunca te dará um presente de aniversário ridículo e totalmente fora de propósito.

Para um gato todos os dias com você são dia dos namorados.

Gatos te manterão aquecida.

Você jamais terá que convidar a mãe dele para vir a sua casa.

Gatos jamais, em tempo algum terão cheiro de cigarro, ou alho ou cerveja.

Um gato nunca fará algum comentário sobre a cor da raiz dos seus cabelos estarem crescidas.

Também achará que o branco de seus cabelos é muito chique.

A única pessoa com que seu gato fala enquanto dorme é com você.



Gatos jamais demonstram impaciência quando você quer discutir o relacionamento com eles.

Gatos não passam horas, que poderiam estar com você, em frente a um espelho levantado peso para ficar mais musculoso.

Também não ficam comparando os seus músculos com de outros gatos.

Um gato não se importa o quanto tempo você leva para chegar ao xis da questão.

Gatos não estão preocupados em esconder o seu lado feminino.

Quando um gato está mau humorado ele fica na dele.

Gatos são diretos: quando querem uma coisa não ficam rodeando o assunto.

Gatos são caseiros, adoram curtir o seu lar.

Um gato não irá te levar fazer uma viagem que você não queira ir.

Gatos são muito limpos e cheirosos.



Gatos não têm problemas de relacionamento.

Acredite, um gato não mente, não trai e não fica enrolando.

Gatos não pedem dinheiro emprestado para devolver na segunda-feira que nunca chegará.

Não estão nem aí se você arrumou a cama.

Gatos são parceiros perfeitos para o dia do pijama.

São educados e discretos.

E tem bom gosto e sofisticação naturais.

Gatos não fazem serão e trazem trabalho para ser feito em casa.

Você não terá jamais que agüentar algum amigo desagradável de um gato.

Melhor, você não terá que conviver com nenhuma esposa insuportável do chefe do seu gato.



Um gato sentirá saudade quando você estiver longe.
Para um gato você e ninguém mais é a pessoa mais importante de sua vida.
Um gato te amará para sempre.



Olhe bem para tua vida:
O maridão se entupiu de costela e cerveja está jogado no sofá usando aquela bermuda do tempo que ele fazia “educação física”.
Na TV um jogo importantíssimo e imperdível que está sendo realizado na FUNAI de Purus, logo ali, na esquina do fim do mundo, entre o time Grêmio dos Pataxós Unidos X Atléticos Caraíbas.

Você quer continuar nessa?
Está esperando o que?

10/02/2000

Chá na ABL.

Os acadêmicos engalanados, sentados aprumados em cadeiras de espaldar alto de couro preto lavrado, como se houvessem ingerido um cabo de vassoura,.
Seguram, estáticos suas xícaras com chá fumegante de procedência duvidosa e de custo econômico com aquele ridículo dedo mínimo levantado e ar blasé.

As cadeiras estão dispostas em círculo em cujo centro encontra-se uma mesa oval, baixa, cerca de trinta centímetros de altura, esculpida em madeira nobre também negra com entalhes rebuscados. Mesa esta de proporções mínimas semi-encoberta por uma toalha quadrada de linho com seus recamos puídos e nódoas amareladas. Dispostos displicentemente dois ou três (pois mais a mesa não comportaria devido suas exíguas proporções) minúsculos recipientes de vidro, imitação barata de cristal da Boêmia.
No interior destes receptáculos, porções liliputianas de petit fours de pouca valia e dúbio paladar.

Tapetes da Pérsia, localizada na Rua da Alfândega, desgastados pelo tempo encontram-se espalhados pelo chão de forma a cobrir manchas do assoalho.
Alguns móveis igualmente da cor do ébano de divergentes estilos amontoavam-se pelo chamado salão de chá.
No canto mais umbroso do aposento, esquecido sobre o console de tampo de alabastro, um vaso de porcelana craquelado pelo transcurso inexorável do tempo contendo um ramalhete de rubras e viçosas rosáceas. Sua fragrância embora aprazível dissipa-se no ambiente onde impera o odor de mofo e naftalina.
As janelas são de proporções grandiosas, pois a altura do pé direito do cômodo remete-nos a um passado remoto quando as edificações eram executadas com abundancia de recursos e engenhosidade. Encontram-se elas constantemente aferrolhadas encobertas por cortinas drapeadas de veludo bordeaux sendo os chales e bandôs de gobelin adornados com requintados querubins.
O lume jamais adentra no recinto, tornando-o sempre umbroso e lúbugre corroborando com o cheiro bafio da atmosfera.

O carrilhão com seu modorrento tique-taque marca o inexaurível passar das horas...
...e os acadêmicos engalanados, sentados aprumados em cadeiras de espaldar alto de couro preto lavrado como se houvessem ingerido um cabo de vassoura.
Seguram, estáticos suas xícaras com chá fumegante de procedência duvidosa e de custo econômico com aquele ridículo dedo mínimo levantado e ar blasé.

Desabafo do Gato.

Minha cara dona.

Caso você ainda não tenha percebido, eu sou um espécime da raça felina também chamado de gato.
Isso mesmo: Ge A Te O.


Não. Não, sou um cão. Não faço Au Au, não levanto a pata para fazer pipi, não ando na coleira.

Mas caso você ainda não tenha percebido, saiba que eu, gato, te dei o prazer de ser minha dona. Mas isso não te dá o direito de fazer de mim gato e sapato.

Como quando você fez aquele curso de corte e costura e cismou que eu tinha que andar vestido com aquele babador de marinheiro.
Eu até consenti em experimentar, pois, sabe como é, nós gatos somos curiosos. Agora, querer que eu fique desfilando por aí vestido de Almirante Nelson... me poupe!
Eu não sou cachorro, com problema de identidade, para me sujeitar a andar por aí com essas roupinhas ridículas.

Outra coisa precisa ficar bem claro entre nós: gato não anda em coleira. Para de trazer para casa esses objetos.
A não ser que você pretenda usar você mesma, nos dias que vem aquele troglodita do teu namorado te fazer “visita.”

Eu gostei do curso de culinária que você fez. Tinha cada receita bacana! E eu só de piloto de teste.
Mas você foi dar ouvidos para aquela Nutricionista Macrobiótica. E acabou com o meu barato. De vingança eu acabei com o teu livro também. Ô comida ruim!

E os Veterinários que você me arruma. O primeiro foi aquele boiola que vivia querendo me enfiar o termômetro para saber se eu tinha febre.
Até o dia que eu mostrei minha indignação arranhando ele todo.

Acho que ele me entendeu pois não mais voltou.

Agora você veio com essa novidade de medicina natural e me arrumou uma Veterinária Homeopata.
Eu acho um saco essa Doutora querer ficar sabendo das minhas intimidades: como eu durmo, se eu sonho, se é colorido ou preto e branco, se gosto de doce ou de azedo, se como azeitonas com ou sem caroços, se cubro ou não as minhas cacas.
Mas como não sou eu quem fica cerca de três horas respondendo as tais perguntas, me limito a fazer PSSSSUUU para ela, quando ela vai olhar para mim em meu esconderijo debaixo da cama.

Uma vez você comprou pela um livro :Massagem Holística para Gatos. É sabido que nós somos flexíveis, mas pobre de mim!
Você me confundia com o super- gato -borracha.
Aquela vez a minha imaginação para encontrar o local prefeito para esconder estava entrando em colapso. Ainda bem que o Veterinário boiola interessou-se pelo assunto emprestou o livro e nunca mais devolveu.

Outra noite você estava na Internet. Fiz-me de bobo e fui dar uma olhada. Tremi nas quatro patas. Lá vem você de novo!
Pesquisava curso de Florais para Animais.
Já adianto que eu não preciso de flores.
Já comi todas as violetas desta casa. Estou satisfeito.

Deixe-me em paz!
Já falei para você: sou um Ge A Te O. Arruma um cachorro para se preocupar deixa eu ficar na minha.

Seu gato estressado.

15/01/02








sábado, 23 de fevereiro de 2008

Declaração de amor.


Lendo o quase romance, quase ficção de Carlos Heitor Cony, intitulado “Quase Memória”, identifico-me com o personagem central, seu pai, num ponto crucial: seu amor? Apego? Abnegação?
Aos lápis e canetas.

O Sr. Cony “escrevia com penas de aço, descartáveis que precisavam ser molhadas na tinta. Usou também as canetas tinteiro mesmo sem nunca te-las apreciado. Quanto as esferográficas nunca se habituou a usá-las.
Dava preferência ao lápis que usou até o fim de sua vida”

Segundo o autor “a máquina de escrever foi responsável pela aposentadoria de uma geração de jornalistas, inclusive seu pai. Pois ele nem sequer ousou experimentar a aprender a usá-la. Não que não fosse capaz, mas porque sabia que ao bater a máquina perderia o contato físico com o papel e sem esse contato o pensamento ficaria difícil de escorrer.”

Não me considero uma velha tacanha daquelas apegada “aos bons tempos do passado”.
A minha “ídola” Danuza Leão sempre apregoou que uma mulher não deveria confessar sua idade ja-ma-is, nem sob tortura.
Mas para minha surpresa no seu último livro abre seu coração e revela o segredo irrevelável.

Se fizer alguma diferença, fui do tempo do disco de vinil, calma lá! Não precisa exagerar! 78 rotações também não!
A televisão era preta e branca, o bonequinho dos cobertores Parahyba cantava:
“já é hora de dormir, não espere mamãe mandar, um bom sono prá você e um alegre despertar!” apagava a vela que trazia, a TV Tupi encerrava sua programação, e depois disso chuvisco na tela. A televisão ia dormir e nós também às 21horas.
O homem chegou à lua, mas teve gente que não acreditou.
Os Beatles eram os Reis do Yé-Yé- Yé.

Para quem gosta mesmo de números que faça um calculo aproximado, raiz quadrada, nove fora eleve a potência que quiser e que seja feliz!

Mas como ia dizendo, não me sinto tão velha assim ao ponto de não estar aberta para as facilidades do mundo moderno.
Muitas contemporâneas minhas, algumas amigas, até mesmo mais novas são incapazes de chegar perto de um micro.
Computador.
Não um microondas.
Se bem que é capaz de que alguma delas tenha medo de microondas também. Não tem louco prá tudo?

Eu sou curiosa.
Gosto da tecnologia e dos benefícios que ela me proporciona.
Não sou nenhuma nerd, mas também não posso me considerar uma total analfabeta na área da informática.

Sou capaz fazer pesquisas na Internet, de descobrir, num estalar de dedos, coisas novas que jamais estariam ao meu alcance se não fosse pela existência do computador.
Posso me comunicar com quem quer que seja, onde quer que esteja, não só por e-mail, mas também posso ver a pessoa e falar com ela.
Posso ler livros, ouvir músicas, ver filmes, editar fotos... as possibilidades são ilimitadas e infinitas.

Mas tal qual o pai de Carlos Heitor Cony tenho minha paixão por papel e lápis. Com a diferença que em relação as canetas que eu não uso penas e nem tinteiro, e me rendo a meras esferográficas Bic mesmo.

Amo escrever meus contos em cadernos. Ou em folhas de papel soltas que depois não acho mais, ou encontro após muito tempo perdida sabe Deus onde.

O contato físico da mão que segura a caneta, deslizando sobre o papel, no ritmo do pensamento é como um balé.
E esse balé muda o compasso, ora agitado, alegre, triste, diferenças essas ditadas pelas minhas emoções além do veículo utilizado.
Por exemplo, a escrita com um lápis mais macio especial para desenho, sai de um jeito, já a feita com uma caneta de ponta porosa tem outro sabor.

O papel e a caneta são como se fossem uma extensão de mim mesma. Enquanto a caneta corre em cima da folha de papel as palavras fluem mais leve e rapidamente. Como se nós quatro, meus pensamentos, minha mão, o lápis e o papel fossemos um só.

Já um computador é um ser distante. Nele tudo é lento e pesado.
Ele tem sua própria identidade. Está ligado na tomada, na dele.
Não sou capaz de considerá-lo uma parte de mim. Ele é ele. E eu sou eu. Jamais seremos nós.

Além do que um caderno e uma caneta podem estar sempre comigo. Quando a idéia surge... lá estão eles, leais companheiros, a postos, sempre à mão.
Se for um micro, mesmo que seja um laptop, já fica um pouco mais difícil.

Outro dia estava dentro do ônibus e tive uma inspiração. Tirei o caderno da mochila e rabisquei as primeiras anotações.
Já pensou tirar o laptop da mochila? Nada de mais...
Mas qual seria a probabilidade de voltar com ele intacto para casa?

Escrever no papel não requer prática nem habilidade. (Desde que alfabetizados, óbvio mais ululante!)
Mas estou percebendo que uma hora há de chegar a que os textos deverão obrigatoriamente ser escritos direto no micro.

Já são tantos e transcrevê-los será tão cansativo, além de que como hei de traduzir os meus próprios hieróglifos grafados no furor de emoções passadas e há muito esquecidas?
Chegará o momento inevitável que serei obrigada a depor minhas armas. Lápis e canetas permanecerão lados a lado esperando o momento para serem utilizados tão somente para anotar uma mera lista de compras ou um recado qualquer.

Deixarei de lado o prazer e amor que sinto com a escrita a mão e terei que me render à frieza dos teclados.
Junto à tela com certeza terei amuletos, patuás, figas e trevos de quatro folhas.
Para cada texto que escrever ou copiar, uma vela acesa, uma oração, para que não apareça na tela aquela mensagem:
“este programa encontrou um erro fatal, e está sendo encerrado”.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Ditado

De repente sem mais nem menos vinha a ordem:
“Peguem seus cadernos de ditado!”


Um frio na barriga. As mãos ficavam úmidas com um suor gelado.
Fazia-se um silêncio sepulcral na sala. Não que um colégio de freiras do século passado fosse alguma coisa divertida.
E século passado não viagem vocês aos tempos das anquinhas, carruagens e mil réis.
Não precisam ir tão longe assim. Se chegarem até a guerra do Vietnã já é uma boa viagem.

Além do caderno ser de ditado, ele era de caligrafia também.
Largas linhas pintadas de amarelo. Isso tinha um duplo significado, aliás, triplo: obrigava-se a escrever dentro da tal linha amarela, saiu fora...
(ah! um mero detalhe escrevia-se a lápis. Borrachas não entravam no recinto jamais. Caso isso acontecesse eram confiscadas e a criminosa levada à presença da temida “soeur” onde permanecia sentada fazendo absolutamente nada durante horas a fio temendo pela sua vida)...

Além de escrever dentro da linha, a letra tinha que ser perfeita, redonda, legível, ai de quem se atrevesse sair do padrão... isso após passado o treinamento das letras de forma. Primeiro as de forma ...todo mundo na forma...todo mundo igual...saia azul marinho camisa branca, meias, sapatos, cadernos, lancheiras...
Pergunto-me como não nos transformamos em robôs?

E finalmente o ditado por ele mesmo.
Não era aterrorizante para uma criança de oito, nove anos?

A professora lia o texto uma vez.
Era do livro do mês. Isso era bom. Muito bom. Apesar de ser mais uma obrigação tínhamos que ler dois livros por mês e fazíamos trabalhos sobre eles, resumos, apresentações em classe, e os tais ditados.

Minha cabeça trabalhava a mil rotações por segundo tentando lembrar o que havia lido.
Então começava a tortura.
“Escrevam: Ditado”
Mas o caderno já não era para esse fim?
Titulo...

E lá seguíamos nós com as nossas dúvidas cruéis:
“é cê-cedilha? dois esses? Porque junto, ou separado, a tem crase ou não?”
Dúvidas essas que só seriam respondidas com notas que iam de um mísero regular ao supra-sumo de um excelente!!! em tinta vermelha no outro dia, ou alguns dias depois conforme o trabalho da professora, que naquele tempo era professora mesmo e jamais uma “tia”.
Em minha opinião tia é parente, irmã de pai ou mãe, mas como ninguém me perguntou nada, melhor ficar quieta.

Como todo texto que se preze ela então ditava.
“Ponto. Na outra linha... travessão!”
Sabíamos então que aquele parágrafo estava acabado. Finito.
Mudar de linha era uma mudança de estado. Mudança de interlocutor. Mudança. Coisas novas e diferentes iriam acontecer.

Mas e o travessão? Quem fim deu ele?
Confesso estou desatualizada. Mudanças ocorreram. No mundo. Na vida. Na gramática.
Os uniformes azuis marinhos estão no museu do colégio, as freiras deixaram o convento, cadernos de caligrafia estão em desuso.

Ponto.
Na outra linha...
Travessão? Você ainda está ai?