sexta-feira, 10 de abril de 2009

Gato Quilteiro e a Páscoa




Minha cara dona,

Confesso que está muito além da minha brilhante capacidade de entendimento o motivo de tanto empenho na confecção de trabalhos com um tema tão, tão... digamos assim... sem graça quanto esse tal de Coelho da Páscoa.

Quem é que vai levar a sério um sujeito que foi enganado por uma tartaruga e que passa o dia correndo a esmo com um relógio gigante nas mãos gritando que é tarde, sem ao menos dizer as horas?
Como pode ser símbolo de alguma coisa um ser que mora numa toca embaixo da terra, tem vida sexual ativa... que, convenhamos, é politicamente incorreta para os dias atuais, pois o que ele pretende é acabar superpovoando o planeta?
Vive roendo aquelas cenouras de boca aberta e ainda por cima não respeita os idosos com aquele linguajar chulo: “O que é que há, velhinho?”

Onde já se viu tamanha falta de respeito?! Os mais velhos precisam ser reverenciados. Existe imagem mais singela que uma vovozinha sentada em sua cadeira de balanço coberta com uma aconchegante manta de patchwork? Claro que, para tornar o quadro muito mais bonito e terno, não poderia faltar o personagem mais importante, um gato, sem o qual o quadro não passaria apenas da figura de uma velha caduca babando na cadeira.

Definitivamente, coelhos não devem ser levados a sério.
Nós, felinos, fomos abençoados com nossa beleza, nossa graça natural, nossa modéstia. Somos tão cheios de predicados, de dons que somos os “musos” inspiradores de todas as artes.
De histórias de amor, afinal quem não conhece Romiau e Julieta e O Amante de Lady Catterly? Tem o Gato de Botas, aquelas gatinhas frescas, as Aristogatas, o gato Félix, o Tom, o gato Cheshire... ah! eu ia adorar ser como ele! Já pensou no dia em que vem aquele bando de mulheres aqui quiltar e, enquanto umas começam a querer me pegar “gatinho, gatinho”, pensam que sou cachorro e que é só estender a mão que já vou abanando o rabo, e outras cheias de frescura se dizem alérgicas a pêlos de gatos, mas não param de fumar? A ignorância do ser humano é surpreendente. Elas andam por aí enfeitadas feito pavão, cheias de jóias, e não sabem que pêlo de gato não dá alergia a ninguém! É a saliva que fica em nossos pêlos quando nos lambemos que causa alergia... sem falar no cigarro.
Mas, se eu fosse como o Cheshire, poderia aparecer só meu sorriso no meio da colcha daquela antipática que vive apertando minhas bochechas. Ou então meu rabo em meio à cesta de costura Louis Vuitton daquela chata que vive soltando fumaça pelas ventas... Já que não posso aparecer e desaparecer, quem sabe uma cuspidinha...
E tem o Garfield. É o meu herói! Eu estava pensando em convidá-lo a passar uns dias aqui no Brasil. Teríamos muitas coisas para conversar.
Pensando bem, não é uma boa idéia. Meu cesto de retalhos está no tamanho certo para mim. Não quero dividi-lo com ninguém, muito menos com um gordo como ele.

Sinceramente, eu quero entender por que despender tanto tempo... Faz horas que você está aí nesse mede, passa a régua, corta, costura, passa a régua, corta de novo, costura, desenha, recorta, cola, aplica...
Está toda empenhada em meio a esse monte de tecidos laranja, verde, fazendo esses trabalhos para a Páscoa e usando a cara desse coelho babaca.
Além do mais, convenhamos... que aberração da natureza é essa um coelho ovíparo? Você já viu coelho botar ovo? Jacaré bota ovo, tartaruga bota ovo, mas coelho...
Um absurdo! Só mesmo um bicho puxa-saco para se sujeitar a fazer um papel ridículo desses.

Eu, por vezes, estive fazendo minha meditação transcendental em cima do teu mat, e você pensa que eu só durmo, não é mesmo? Eu já ouvi você dizer inúmeras vezes que nós, gatos, somos uma rica fonte de inspiração para inúmeros projetos. Você já viu a e-nor-mi-da-de de tecidos estampados com felinos ma-ra-vi-lho-sos que se encontram à disposição de quem quer gastar alguns dólares na internet?
Então, mulher, larga mão, esquece o tal do Coelho da Páscoa! Coelho já era.
A moda agora é Gato da Páscoa.
Você está me olhando com um olhar esquisito.
O meu instinto de preservação está tocando o sinal de alerta nas nove vidas.
Sete?
Que seja...
Ops... Em quem você está pensando que vai pôr essas orelhas?
Ninho?
Ovos?
Nem pensar...
Miau!!!

Gato (da Páscoa) Quilteiro


25 de janeiro de 2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Dúvida Cruel


Uma propaganda só é eficiente quando nos lembramos do produto anunciado por ela.


De que adianta saber cantar o jingle:

“Já é hora de dormir,
Não espere mamãe mandar...
Um bom sono pra você,
E um alegre despertar!”

se não conseguimos lembrar que o personagem da campanha era um bonequinho usando um camisolão e gorro de dormir, com um castiçal na mão?
Mas o pior mesmo é lembrar-se de tudo isso e se esquecer do principal. O que é mesmo que esse bonequinho queria nos vender? Velas? Colchões? Penicos? Comprimidos para dormir?
Para quem a esclerose chegou valendo, ele vendia os cobertores Parahyba.

Incontestável é a eficácia da propaganda na qual um moleque entra no banheiro e, passado algum tempo, grita:
– Alfredo, o Neve!
E lá vem o mordomo, o eficiente Alfredo, com o papel higiênico Neve na bandeja de prata para o cagão imprevidente.

Mas a maioria dos míseros mortais não tem nenhum Alfredo, então devemos nós mesmos tomar as devidas providências relacionadas aos Neves nossos de cada dia. Que, diga-se de passagem, não precisam ser necessariamente Neves.

Eu, pessoalmente, não sou fiel a marcas. Procuro pelo melhor preço, desde que não seja lixa, pois afinal não me achei, me achei... bem, não me achei no lixo.
Papel higiênico para mim tem que ser macio, de folha dupla e com um preço razoável.
O governo fala o que quer, quando quer. Economia estável, não tem inflação, está tudo muito bom, está tudo muito bem. Porém há algo diferente no reino da Dinamarca, e está lá, estampado na embalagem do papel higiênico. Subiu o preço. Quer saber como está o mercado financeiro do país? Não precisa ler ou ouvir as entrevistas incompreensíveis dos analistas. É só ir ao supermercado e olhar o preço do papel higiênico. Subiu? Tá dando merda.

Eu considero o papel higiênico gênero de primeiríssima necessidade. De que adianta ter uma cesta básica com arroz e feijão? O governo está pensando só na entrada... E a saída?
Porém, nas últimas vezes em que fui ao supermercado, voltei cabisbaixa, meditabunda, injuriada, indignada. Como é possível aplicar um golpe baixo desses na calada da noite? Isso não é só um ataque ao bolso do cidadão brasileiro. É um ataque covarde e pelas costas.

Socorro! Aumentou o preço do papel higiênico!

Eu já desisti de tentar entender qual a razão que me faz comprar pacotes com oito rolos de papel, já que moro só. Vai ver que meu subconsciente sabe que o fim do mundo está à espreita na próxima esquina, ou que os bolivianos ou venezuelanos irão explodir um rojão qualquer sobre nossas cabeças, causando uma guerra, ou uma catástrofe qualquer. Imagino que deva ser uma sensação horrível ser acometido por uma diarréia num horário impróprio e ter que ficar cagado sem ter um mísero pedaço do precioso papel para dar conta do recado.

O papel higiênico subiu. O que fazer? Não dá para viver sem ele. Qual é a opção?
No mercado, na respectiva seção, encontro outra cliente com o mesmo ar apatetado que eu.
Se estivéssemos na seção de sabão em pó, seria fácil puxar conversa:
– Qual é marca que rende mais?
– O teu lava tão branco quanto meu?
– E as roupas coloridas, ficam mais brilhantes?
– E aquele cheirinho de limpeza?

Agora, qual é o diálogo inteligente possível de ser mantido diante de uma gôndola de papel higiênico?
– Você caga muito ou pouco?
– Esse perfumado, disfarça o cheio de bosta?

– Você sabe se o colorido solta tinta?

Convenhamos, existem tantas opções para um mesmo fim que, na maioria das vezes, ao invés de ajudar, só servem para confundir.

Vejamos...
Folhas simples versus folhas duplas
Folhas simples, a meu ver, servem para pessoas jeitosas, pois aquelas sem paciência, que fazem tudo estabanadamente, com certeza farão com que o papel fure no meio e, quando perceberem, estarão com o dedo sujo de merda. Não dá para encarar.

Em alguns deles a maior qualidade é sua maciez. Tem até um com toque de pluma. Toque de pluma? Deve fazer cócegas...

Trinta metros, cinqüenta metros, sessenta metros. Rende mais. Rende menos. Comparados com que especificamente? Com quem caga mais? Rende menos. E se tiver intestino preso? Rende mais... Muito confuso...

Com perfume ou sem perfume?
Se optar por perfume, entre uma das variedades, eis que encontro: hortênsia. Ops! E desde quando hortênsia tem cheiro de alguma coisa? Mas quem sou eu para discutir?
Posso ser uma completa ignorante com relação a perfumes ideais para papéis higiênicos.
Taí uma flor que conheço: jasmim. Espere um pouco... Qual é a função de um papel higiênico perfumado fora deixar o banheiro com cheirinho?
Ao que me consta, seres humanos ainda não adquiriram hábitos caninos de cheirarem uns aos outros ao se encontrarem.

Existem também aqueles com coelhinhos... Qual o porquê da existência desses coelhos num papel que tem um fim tão inusitado? Por que não pôr também gatos, cachorros, passarinhos? Cada coisa... O mais esquisito dizia CUBO. Virei o rolo para todos os lados e não vi cubo algum. Tinha exatamente o mesmo formato cilíndrico de todos os outros. Uma sigla. É isso! CUBO.
Cu dos Bobos? Será isso? Melhor deixar para lá.

Enquanto me debatia e divagava envolta em dúvidas cruéis, a minha parceira já havia decidido e saía feliz abraçada com seu fardinho, não sem antes me explicar a razão da sua escolha.
– Oh, céus! E agora?, perguntei para mim mesma.
Qual a forma ideal para me despedir da moça que acabara de conhecer e conviver por alguns minutos diante da gôndola de papel higiênico?
– Tchau, prazer em conhecê-la, boa cagada!
– Tchau, eu e meu cu agradecemos pela dica!
Sem saber o que dizer, apenas sorri e continuei no mesmo local, assolada pelas dúvidas
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1o de agosto de 2008