Na rodoviária, pessoas e bagagens formam um amontoado só. Alto-falantes anunciam as partidas dos ônibus cada vez mais seguidamente. Automóveis chegam e despejam cada vez mais passageiros. Tamanho o frenesi e a ânsia por partir que a sensação que eu tenho é de que algo terrível está acontecendo. Alguma ameaça, um perigo iminente que impele retirada em massa das pessoas para um lugar seguro.
O sinal abre. Arranco sem pressa. Não vou a lugar
algum... meu rumo é outro.
Já há algum tempo desisti das tais viagens de final de ano. Não vejo menor sentido em enfrentar uma estrada congestionada, chegar a uma praia cheia de gente...
Já há algum tempo desisti das tais viagens de final de ano. Não vejo menor sentido em enfrentar uma estrada congestionada, chegar a uma praia cheia de gente...
– Com licença, tem um lugar para eu pôr meu guarda-sol?
– Desculpe, minha cadeira esbarrou na sua...
Levar bolada de criancinhas, ouvir choro de pimpolhos e gritos de suas progenitoras, ser atropelada por pranchas de surfe.
Enfrentar filas em supermercados, panificadoras, sorveterias, lanchonetes e ainda ser assaltada na hora de pagar por produtos superfaturados.
Cidades praianas com infra-estrutura desejável, passa ano, entra ano, a história é sempre a mesma: falta água, poluição, saneamento deficiente ou inexistente.
Se faz muito calor, é o mesmo que estar no inferno, grudando e melada o tempo todo. Se chove e esfria, é um tédio sem fim.
Esta é a razão das pessoas correrem no final do ano, as tais das férias de verão. Isso é o que me faz parar e permanecer exatamente onde estou.
Passada toda a euforia das compras e festas, a cidade fica despovoada. Um silêncio só. A impressão que tenho é de que posso ficar pelada na rua que alguém só irá perceber depois de muito tempo, tamanha quietude e calma.
Chego ao meu destino. Estaciono o carro.
Meus amigos gaúchos vão para seu pago, como eles chamam o seu Rio Grande, passar as festas e as férias das crianças com suas famílias, bem como os cariocas e os pés-vermelhos. Aqueles cuja família mora no exterior já viajaram, e quem trabalha e vai aproveitar só os feriados partirá nas próximas horas. Fui nomeada guardiã de plantas, carros, jardim e de uma tartaruga.
Os gaúchos já se encontram pilchados, prontos para montar seus pingos e galoparem rumo aos pampas. Falta apenas o gaudério chegar, pois que ainda se encontra no escritório dando as últimas ordens para seu computador.
Cuias, bombas, espetos, pelegos, presentes, malas, tudo acondicionado só aguardando a chegada do chefe da família para pegarem a estrada.
A gurizada corre de um lado para outro mais ansiosa que anão em comício. Não vêem a hora de partir, pois querem chegar logo à estância dos avós e se encontrar com os primos para brincar.
Mesmo estando atulhada de bagagens e com a algazarra da gurizada, para mim a casa já parece vazia. Sinto falta de Churrasco e Chimarrão, o labrador preto e o gato persa, que já foram encaminhados para seus respectivos hotéis.
Pego a bola vermelha com a qual costumo brincar com Churrasco e que está largada no meio do gramado. Sinto sua presença aonde quer que eu olhe naquele quintal. Suspiro e deixo a bola onde encontrei.
Dentro da casa também me sinto esquisita sem o Chimarrão se enroscando entre minhas pernas e miando para que eu jogue seu rato de pele para ele caçar.
Recebo as chaves, o controle remoto do portão, a senha do alarme, o manual completo de instruções.
Esse ar de fim de feira me deixa melancólica. Não é simplesmente o fato da partida em si. Mas os objetos empacotados prontos para serem levados, a casa fechada... sei lá. Talvez coisas de vidas passadas, vai saber.
Nessas férias vou sentir falta dos meus amigos... de quatro patas.
Minha cara Murphy Brown,
ResponderExcluirGostei muito do texto. Muito interessante a classificação de estância (só se for para repouso de loucos - no bom sentido).
Vou salvar este link no menu de favoritos para checar o progresso das suas histórias.....
Alexandre
Temho certeza que Chimarrão e Churrasco também sentiram saudade!
ResponderExcluirEsse ano voce empacota as suas coisas e vem pra cá. Eu ia adorar e meu amigo de 4 patas também!
E com a saudade passada os bichanos e caninos reencasados ganhamos nós um novo post.
ResponderExcluirSus krida!
Feliz Ano Novo.
Acho que fiquei com ciúmes...
ResponderExcluirTenho certeza que Churrasco e Chimarrão tambem sentiram sua falta!
ResponderExcluirDa próxima vez, vc arruma sua mala e vem pra cá .Eu e aquela bola de pelos brancos iamos ficar bem felizes de ter vc por perto!!!!
Bisou.
Se mandar o endereço de "cá" estou começando a empacotar. Peludos estão incluidos?
ResponderExcluirJu, você pensa que eu ia te esqucer? V. tb está na história com sobrenome e tudo.
ResponderExcluirE o Anônimo da bola de pelos brancos também não se reconheceu em algum lugar? Uma dica...não é o Chimarrão
ResponderExcluirUma dica pra vc Murphy Brown, o endereço de "cá" é o mesmo onde vc andou mandando umas paçocas e o nome da bola de pelos brancos começa com "Ti" e termina com "bi". Ajudou?Meu comentário anonimo saiu 2 vezes, viu como tenho um caminho longo a percorrer?
ResponderExcluirSaudade e bisou!
Pois é...eu só descobri depois do segundo convite, pela bola de pelos que era você e ele.. Até estava toda saliente pensando que tinha dois fãs anônimos qurendo minha presença cinzenta e peluda...responda depressa...o que é melhor dois fãs anônimos, ou um muuuito querido? Muitas paçocas, ops...beijocas para você. Quanto a bola de pelos é melhor eu meu manter afastada, ele não vai querer provar o poder das minhas garras.
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