sexta-feira, 3 de abril de 2009

Dúvida Cruel


Uma propaganda só é eficiente quando nos lembramos do produto anunciado por ela.


De que adianta saber cantar o jingle:

“Já é hora de dormir,
Não espere mamãe mandar...
Um bom sono pra você,
E um alegre despertar!”

se não conseguimos lembrar que o personagem da campanha era um bonequinho usando um camisolão e gorro de dormir, com um castiçal na mão?
Mas o pior mesmo é lembrar-se de tudo isso e se esquecer do principal. O que é mesmo que esse bonequinho queria nos vender? Velas? Colchões? Penicos? Comprimidos para dormir?
Para quem a esclerose chegou valendo, ele vendia os cobertores Parahyba.

Incontestável é a eficácia da propaganda na qual um moleque entra no banheiro e, passado algum tempo, grita:
– Alfredo, o Neve!
E lá vem o mordomo, o eficiente Alfredo, com o papel higiênico Neve na bandeja de prata para o cagão imprevidente.

Mas a maioria dos míseros mortais não tem nenhum Alfredo, então devemos nós mesmos tomar as devidas providências relacionadas aos Neves nossos de cada dia. Que, diga-se de passagem, não precisam ser necessariamente Neves.

Eu, pessoalmente, não sou fiel a marcas. Procuro pelo melhor preço, desde que não seja lixa, pois afinal não me achei, me achei... bem, não me achei no lixo.
Papel higiênico para mim tem que ser macio, de folha dupla e com um preço razoável.
O governo fala o que quer, quando quer. Economia estável, não tem inflação, está tudo muito bom, está tudo muito bem. Porém há algo diferente no reino da Dinamarca, e está lá, estampado na embalagem do papel higiênico. Subiu o preço. Quer saber como está o mercado financeiro do país? Não precisa ler ou ouvir as entrevistas incompreensíveis dos analistas. É só ir ao supermercado e olhar o preço do papel higiênico. Subiu? Tá dando merda.

Eu considero o papel higiênico gênero de primeiríssima necessidade. De que adianta ter uma cesta básica com arroz e feijão? O governo está pensando só na entrada... E a saída?
Porém, nas últimas vezes em que fui ao supermercado, voltei cabisbaixa, meditabunda, injuriada, indignada. Como é possível aplicar um golpe baixo desses na calada da noite? Isso não é só um ataque ao bolso do cidadão brasileiro. É um ataque covarde e pelas costas.

Socorro! Aumentou o preço do papel higiênico!

Eu já desisti de tentar entender qual a razão que me faz comprar pacotes com oito rolos de papel, já que moro só. Vai ver que meu subconsciente sabe que o fim do mundo está à espreita na próxima esquina, ou que os bolivianos ou venezuelanos irão explodir um rojão qualquer sobre nossas cabeças, causando uma guerra, ou uma catástrofe qualquer. Imagino que deva ser uma sensação horrível ser acometido por uma diarréia num horário impróprio e ter que ficar cagado sem ter um mísero pedaço do precioso papel para dar conta do recado.

O papel higiênico subiu. O que fazer? Não dá para viver sem ele. Qual é a opção?
No mercado, na respectiva seção, encontro outra cliente com o mesmo ar apatetado que eu.
Se estivéssemos na seção de sabão em pó, seria fácil puxar conversa:
– Qual é marca que rende mais?
– O teu lava tão branco quanto meu?
– E as roupas coloridas, ficam mais brilhantes?
– E aquele cheirinho de limpeza?

Agora, qual é o diálogo inteligente possível de ser mantido diante de uma gôndola de papel higiênico?
– Você caga muito ou pouco?
– Esse perfumado, disfarça o cheio de bosta?

– Você sabe se o colorido solta tinta?

Convenhamos, existem tantas opções para um mesmo fim que, na maioria das vezes, ao invés de ajudar, só servem para confundir.

Vejamos...
Folhas simples versus folhas duplas
Folhas simples, a meu ver, servem para pessoas jeitosas, pois aquelas sem paciência, que fazem tudo estabanadamente, com certeza farão com que o papel fure no meio e, quando perceberem, estarão com o dedo sujo de merda. Não dá para encarar.

Em alguns deles a maior qualidade é sua maciez. Tem até um com toque de pluma. Toque de pluma? Deve fazer cócegas...

Trinta metros, cinqüenta metros, sessenta metros. Rende mais. Rende menos. Comparados com que especificamente? Com quem caga mais? Rende menos. E se tiver intestino preso? Rende mais... Muito confuso...

Com perfume ou sem perfume?
Se optar por perfume, entre uma das variedades, eis que encontro: hortênsia. Ops! E desde quando hortênsia tem cheiro de alguma coisa? Mas quem sou eu para discutir?
Posso ser uma completa ignorante com relação a perfumes ideais para papéis higiênicos.
Taí uma flor que conheço: jasmim. Espere um pouco... Qual é a função de um papel higiênico perfumado fora deixar o banheiro com cheirinho?
Ao que me consta, seres humanos ainda não adquiriram hábitos caninos de cheirarem uns aos outros ao se encontrarem.

Existem também aqueles com coelhinhos... Qual o porquê da existência desses coelhos num papel que tem um fim tão inusitado? Por que não pôr também gatos, cachorros, passarinhos? Cada coisa... O mais esquisito dizia CUBO. Virei o rolo para todos os lados e não vi cubo algum. Tinha exatamente o mesmo formato cilíndrico de todos os outros. Uma sigla. É isso! CUBO.
Cu dos Bobos? Será isso? Melhor deixar para lá.

Enquanto me debatia e divagava envolta em dúvidas cruéis, a minha parceira já havia decidido e saía feliz abraçada com seu fardinho, não sem antes me explicar a razão da sua escolha.
– Oh, céus! E agora?, perguntei para mim mesma.
Qual a forma ideal para me despedir da moça que acabara de conhecer e conviver por alguns minutos diante da gôndola de papel higiênico?
– Tchau, prazer em conhecê-la, boa cagada!
– Tchau, eu e meu cu agradecemos pela dica!
Sem saber o que dizer, apenas sorri e continuei no mesmo local, assolada pelas dúvidas
.

1o de agosto de 2008

4 comentários:

  1. Sabe que pra algumas das suas dúvidas existenciais eu tenho, se não a resposta, pelo menos uma boa desculpa? Fardos de 8 rolos e rolos com 60 metros? Consciência ecológica!!! Menos embalagens no lixo do mundo! Fale a verdade: dá até pra engatar um assunto com a vizinha de corredor!!!

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  2. Concordo com você que papel higiênico. deveria ser artigo de primeira necessidade, além de lencinhos umedecidos, ok deixa o lencinho pra artigo de segunda necessidade.

    Aqui saiu um papel triplo... que diz que uma folha "dá conta do recado".... vou mandar pra você testar, e depois você me conta o que achou.

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  3. Pois é...filosofar sobre papel higiênico não é uma coisa muito fácil. Veja você, cheguei a pensar se não estava sendo políticamente incorreta ao considerá-los artigo de primeira necessidade. Lenços umedecidos, então, é o complemento perfeito. Mas me pergunto, não seremos taxadas de Maria Antonieta?

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  4. vao toma no cu seus bosta

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Tenho interesse em saber sua opinião sobre meus textos.
Afinal eu poderia estar caçando ratos, não é mesmo?