domingo, 22 de novembro de 2009

Minha Vida de cão






Meu nome é Tobias, tenho quatro meses e sou um cãozinho. Não sou igual à maioria dos outros cachorros. Eu sou especial, sou da raça da moda. Todos me querem e pagam muito caro para poderem me levar para casa.

Eu moro num apartamento. Tenho muito mais do que preciso. Uma cama quentinha, ração balanceada na hora certa, um guarda-roupa completo para eu não sentir frio. Tenho até mesmo uma camisa de futebol do time preferido do meu dono e acreditem: uma capa de chuva!

A cada duas semanas sou levado ao pet shop, onde sou banhado, tosado e perfumado. Meus pelos ficam macios como veludo.
As crianças brincam comigo. Quando saio à rua, todos me param e mexem comigo. Os adultos me afagam e dizem que sou uma gracinha.

*******
O tempo passou tanto para mim quanto para a família que pagou muito caro a fim de me levar para a sua casa. Já não sou mais um filhote engraçadinho. A minha raça também já saiu de moda. Foi substituída por outra... Coisas de marketing.

Envelheci, pois é a ordem natural da vida. Preciso de maiores cuidados, de mais atenção. A empregada, que ultimamente estava me levando para passear, já tem muito serviço para fazer. Os adultos, cheios de responsabilidades, estão sempre muito ocupados fazendo contas e pensando no dinheiro que têm de trazer para casa.
As crianças cresceram, têm o seu tempo todo tomado, e eu perdi a graça.

Tentava ainda recebê-los abanando o rabo quando chegavam, e me diziam:
– Agora não!
– Não vê como estou ocupado?
– Sai para lá, babão!
– Esse cachorro está ficando burro!

Aos poucos fui sendo esquecido, assim como aquele brinquedo velho com que as crianças não brincam mais.
*******
Meu nome é Tobias. Ainda sou um cão de raça, mas hoje ninguém mais me quer. Moro por aí. Durmo encolhido num cantinho qualquer. Quando chove, se não encontro um lugar onde me abrigar, fico todo encharcado. Os meus pelos são emaranhados, ásperos e estou sempre imundo. Como quando encontro algum resto ou quando uma alma caridosa me joga algumas migalhas.
Nenhuma criança brinca comigo, e os adultos, ao passarem por mim, olham-me com desprezo, torcem o nariz e me enxotam dizendo:
– Sai para lá, cão sarnento!
– Como é fedido!
– Que imundície!
E seguem seus caminhos, cheios de seu egoísmo e vaidade.

E eu?

Não me abandone...
Eu sinto a sua falta!


11 de maio de 2000

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Tenho interesse em saber sua opinião sobre meus textos.
Afinal eu poderia estar caçando ratos, não é mesmo?