sábado, 2 de janeiro de 2010

O Cão

O prédio de mármore, granito, sei lá, dinheiro público gasto sem parcimônia.
No pátio da entrada principal, deitado, imóvel, um cachorro. Parece morto de tão quieto. As pessoas passam por ele, e ele não se mexe.

Eu também passo devagar e meu coração se aperta.

Cheguei cedo, preciso esperar que a repartição pública abra suas portas e comece seu expediente.
Sento na escada de granito. Ou mármore.

Olho de soslaio para o cão, que permanece deitado. As pessoas também continuam passando ao seu lado. Um funcionário do órgão, grande, forte, bem composto com seu uniforme, mostra sua eficiência e, com toda autoridade, enxota-o.

Ele se levanta, magérrimo, encardido e, obedientemente, de cabeça baixa, rabo entre as pernas, sai.

Eu, impotente, choro. Sentada naquela escada de mármore. Ou granito.


Outubro de 2008

Um comentário:

  1. " Nao sou nada.
    Nunca serei nada.
    A parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo.
    ... ...

    E vou dormir à soleira da porta como um cão tolerado pela gerência. " FP.

    Adorei o pqueno conto. Triste e singelo. Me lembrou Pessoa, como podes ver.
    Me levou a mim mesma.
    Feliz Ano Novo.
    Mesmo nós os gatos, temos alguma parte de cão abandonado dentro de nós.
    Mas nossa parte felina logo salta e se esgueira por entre os pneus dos carros, os vãos de cerca, ou as pontas dos sapatos da gerência.
    Podemos passar os natais escondidos em baixo do pinheirinho, mas " quando a onça sai, o mato é nosso".
    Estive aqui antes da virada do ano e juro que te escrevi um longo comentário no post anerior. Não sei o que aconteceu com ele.
    Você anda muito inspirada e eu estou voltando. Feliz por Tê encontrar assim.
    Grande beijo.
    Marie

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Tenho interesse em saber sua opinião sobre meus textos.
Afinal eu poderia estar caçando ratos, não é mesmo?