quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Chá na ABL.

Os acadêmicos engalanados, sentados aprumados em cadeiras de espaldar alto de couro preto lavrado, como se houvessem ingerido um cabo de vassoura,.
Seguram, estáticos suas xícaras com chá fumegante de procedência duvidosa e de custo econômico com aquele ridículo dedo mínimo levantado e ar blasé.

As cadeiras estão dispostas em círculo em cujo centro encontra-se uma mesa oval, baixa, cerca de trinta centímetros de altura, esculpida em madeira nobre também negra com entalhes rebuscados. Mesa esta de proporções mínimas semi-encoberta por uma toalha quadrada de linho com seus recamos puídos e nódoas amareladas. Dispostos displicentemente dois ou três (pois mais a mesa não comportaria devido suas exíguas proporções) minúsculos recipientes de vidro, imitação barata de cristal da Boêmia.
No interior destes receptáculos, porções liliputianas de petit fours de pouca valia e dúbio paladar.

Tapetes da Pérsia, localizada na Rua da Alfândega, desgastados pelo tempo encontram-se espalhados pelo chão de forma a cobrir manchas do assoalho.
Alguns móveis igualmente da cor do ébano de divergentes estilos amontoavam-se pelo chamado salão de chá.
No canto mais umbroso do aposento, esquecido sobre o console de tampo de alabastro, um vaso de porcelana craquelado pelo transcurso inexorável do tempo contendo um ramalhete de rubras e viçosas rosáceas. Sua fragrância embora aprazível dissipa-se no ambiente onde impera o odor de mofo e naftalina.
As janelas são de proporções grandiosas, pois a altura do pé direito do cômodo remete-nos a um passado remoto quando as edificações eram executadas com abundancia de recursos e engenhosidade. Encontram-se elas constantemente aferrolhadas encobertas por cortinas drapeadas de veludo bordeaux sendo os chales e bandôs de gobelin adornados com requintados querubins.
O lume jamais adentra no recinto, tornando-o sempre umbroso e lúbugre corroborando com o cheiro bafio da atmosfera.

O carrilhão com seu modorrento tique-taque marca o inexaurível passar das horas...
...e os acadêmicos engalanados, sentados aprumados em cadeiras de espaldar alto de couro preto lavrado como se houvessem ingerido um cabo de vassoura.
Seguram, estáticos suas xícaras com chá fumegante de procedência duvidosa e de custo econômico com aquele ridículo dedo mínimo levantado e ar blasé.

2 comentários:

  1. Dá pra sentir a imobilidade do lugar! E eu que comecei uma continuação anos atrás... Mas não fui adiante... Faremos outros em parceria!

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  2. Você sabe que é um dos meeewaaoos sonhos.

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Tenho interesse em saber sua opinião sobre meus textos.
Afinal eu poderia estar caçando ratos, não é mesmo?