segunda-feira, 3 de março de 2008

Brinquedos de Criança

Quem tem “certa idade” já não lembra ou finge que se esqueceu de coisas de seu tempo de criança.
Brincadeiras de crianças que vivem em apartamentos em cidades grandes, nem pensar.
As crianças de hoje em dia quando não estão nas aulas disso ou daquilo, estão em frente ao computador. Já não vivem soltas pelas ruas brincando como fazíamos.


Mas durante o verão as coisas mudam. Literalmente. As famílias se mudam. Saem das cidades rumo ao litoral e lá mesmo que fiquem em apartamentos as crianças espalham-se por todos os lugares, inclusive as ruas.
Mas tem coisas que não consigo compreender...


Estava eu sentada na beira da praia lendo um livro, quando reparei numa garotinha de cerca uns quatro anos que parecia Cachinhos de Ouro. Sabem quem é? Aquela chata e mal educada da história dos três Ursos que comeu o mingau sentou e quebrou a cadeira, desarrumou a cama, e ainda ficamos ouvindo o ursinho choramingar a história inteira: “quem comeu meu mingau? Quem quebrou minha cadeirinha?”

A Cachinhos de Ouro da praia brincava calmamente com seu baldinho fazendo castelos de areia, quando re repente, não mais que de repente, sei lá por que estranha razão se um salto colocou-se em pé, abriu os braços e começou a girar...
Girava, girava...
“Currupiu, piu, piu...
A galinha me cuspiu...
(Galinha cospe? Como pode isso? Então ela também baba? Irgh! Que nojo!)
E o papai nem viu!
(Tá e daí? Se o papai visse que providências ele poderia tomar contra a galinha cuspideira? Um lenço? Uma escarradeira? Iria abrir um guarda-chuvas?)

Girava como um pião descontrolado enquanto recitava o mantra sem nexo.
Eu já estava nauseada quando Cachinhos de Ouro despencou sobre seu castelo de areia tal qual a lavra do Vesúvio quando soterrou Pompéia. Não sobrou nada!
Meu cérebro ainda chacoalhava pela visão rodopiante enquanto algumas lembranças iam e vinham em espiral como num tornado em slow motion: “e eu já brinquei disso!”


O que leva, uma criança aparentemente normal a girar descontroladamente sem nenhum motivo? Enjoada, não cheguei à conclusão alguma.

Estava absorta em meus pensamentos a caminho de casa, quando me deparei com um menino que se balançava na rede na sacada de sua casa.
Balançava, modo de dizer... ele era o maluco da rede.
Quando a rede ia para trás a impressão que eu tinha é que ela giraria 360°. graus. Então eles voltavam para frente. Ele com as pernas bem esticadas dava um impulso muito forte na parede fazendo com que a rede ao voltar fosse mais alto.
Para a frete de novo. Outro impulso. Para trás. Mais alto. Outra vez...



Observando essas brincadeiras me pergunto até que ponto podemos confiar em nós mesmos? Até que ponto podemos confiar nos adultos em que nos tornamos?
Hoje em dia não se fala tanto na descoberta da criança interior?


E se Hillary Clinton torna-se presidente da nação mais poderosa do planeta e num rompante sua criança interior resolve rodar no meio da sua sala presidencial, aproveitando que ela é oval. Dá para imaginar?

E de outro lado do mundo a criança interior de Bin Laden balançando furiosamente no meio do deserto...

Onde é que o mundo pode parar com essas perigosíssimas brincadeiras de crianças?
Nem é bom pensar...


05/01/07

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Afinal eu poderia estar caçando ratos, não é mesmo?