quinta-feira, 13 de março de 2008

Mulher Gato.

Amava os gatos profundamente.
Amava-os e respeitava-os.
Identificava-se com eles.


Amava sua solitude.O seu só ser.
Não conseguia entender aquelas pessoas que viviam a reclamar de solidão.


Tivera desde sempre, muito claro , o sentimento de ser só.
Nascera só.
Não dividira o útero materno com nenhum irmão gêmeo. E também, se o tivesse feito, na hora do parto, só haveria espaço para um de cada vez.

Tinha também a certeza de que se por ventura morresse num desastre daqueles de grandes proporções – aqueles que vende muita revista, e que é noticia por muito tempo – cada alma teria seu próprio momento.


Seguia então o seu caminho pela vida.
Os gatos, como ela, também, seguiam seus próprios caminhos.
Quando queriam, faziam com que eles se cruzassem.


Quando ela chegava a casa, iam à porta recebê-la.
Arqueavam as costas, esfregavam-se em suas pernas, marcando-a com o seu cheiro.
Ou então arranhavam seus sapatos, olhando fixamente nos seus olhos.
Demonstravam imenso prazer em ter-la de volta ao lar.
Satisfeitos com ritual de saudação e sedução, ocupavam-se novamente de si mesmos.


Eles a tinham, quando eles queriam.
Quantas vezes ela encontrava-se frustrada, carente, tentava então manter um deles em seus braços.
Queria acariciá-lo, aliviando a sua necessidade de toque.
Eles sujeitavam-se por segundos.
Concediam-lhe míseras esmolas de sua boa vontade. Mas assim que o abraço afrouxasse um pouco, um salto ágil o colocaria em um local seguro. Onde então fariam uma higiene vigorosa procurando livrar-se rapidamente de toda sensação daquele contato indesejado.


E ela ficaria com as mãos vazias.


“Gatos só fazem o que querem, quando querem.”


Não precisam... ter que sorrir sem vontade,
ter que ir querendo ficar,
ter que falar querendo calar...


Que inveja!

Agosto 2000

4 comentários:

  1. Com Sophia é a mesma coisa.
    Aprendo dia a dia a arte de só ser, me ensina a ser só mesmo rodeada de tudo ou nada.
    Majestade.
    Acho que por simpatia, ou velhice as vezes tenta ser cachorro. Mas não por muito tempo, não foge a sua natureza.
    Gata é gato.
    Gostei muito.
    Marie

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  2. Você foi chegando aos poucos...

    Teria sido num daqueles encontros de amigo secreto?

    Amiga da amiga, que ficou amiga...
    O tropeço virtual...e a grande descoberta:

    Sophia! e o mundo felino.

    Um amor em comum! Bem vinda!

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  3. Pois é murphy brown... o mundo felino e dos encontros fortuitos nos encanta.
    O mundo dos blogs, bastante novo para mim, também me encanta.
    Obrigada pelas boas vindas, seja bem vinda você também.
    Gosto de ler vocês.
    Saudações felinas.
    Marie

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  4. O importante é ser feliz... esta é a lei dos animais, vamos esquecer os "TENHO QUE" e vamos VIVENCIAR a vida amando cada minuto que dispomos e fazendo algo que nos faça feliz, que possamos ao final de cada dia recitar como a criança inocente que diz:
    " hoje estou feliz,
    não tive um dia vazio,
    trabalhei, não fui vadio
    e não fiz mal a ninguém."

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Tenho interesse em saber sua opinião sobre meus textos.
Afinal eu poderia estar caçando ratos, não é mesmo?